terça-feira, 17 de janeiro de 2017

ISSO EU INVEJO!



                          Não sou uma pessoa invejosa. Graças a Deus!
                          As coisas que eu gosto e que valorizo são poucas e não se compram com dinheiro.
                          Claro que eu ia adorar ter uma casa enorme, com banheira e piscina, uma mesa comprida para dez ou doze pessoas bem acomodadas, uma cristaleira antiga cheinha de cristais, um piano de cauda, uma biblioteca com livros raros e lidos, com luz e temperatura adequadas para escrever e uma poltrona maravilhosa para ler, várias suítes com camas king, empregadas perfeitas e educadas, cozinheiras que soubessem preparar comidas light e saudáveis, babás preparadas para quando meus netos viessem me visitar, enfim, esses confortos que só os ricos têm. Uma estância para andar a cavalo nos finais de semana e ver muitas galinhas ciscando, laguinho com patos, essas coisas que a campanha tem de sobra, além dos churrascos e doces caseiros. Gostaria muito de ter tido uma vida assim, mas não tive e não morro por isso. Espero que as pessoas que podem viver assim saibam valorizar e agradecer a sorte que tiveram e o que herdaram dos seus pais.
                          Agora, tem uma coisa que eu invejo de verdade! Uma inveja “branca”, daquelas que não fazem mal a ninguém, só nos deixam loucos de vontade de poder ser igual.
                          Minha maior inveja é dos casais que se amam!
                          Dos casais que se amam verdade, que vivem um para o outro e depois os dois para os filhos e ainda para os netos, e talvez para os bisnetos. E continuam se amando. E se preocupando um com o outro. E se beijando na boca. E se procurando na cama. E viajando juntos. E sempre de mãos dadas, olhando para o mesmo lado. E não se ofendendo. E não pronunciando palavras duras para o outro. Vivendo num amor que nasceu no vigor da juventude e foi amadurecendo e se tornando cada vez mais saboroso, mais macio, mais delicioso de viver. Um casal que enfrenta junto as dificuldades da vida sem se acusar, mas unindo forças, erguendo o outro nas quedas, oferecendo o ombro, aconchegando.
                           Invejo os casais que vivem como os meus pais viveram. Num amor que nem a cegueira dele e a perda horrível de um filho abalou. E eles continuaram se beijando na boca, dedicando palavras doces um ao outro e elogios constantes, estímulos, agrados de quem ama e sabe amar.
                           Nas redes sociais, as comemorações que mais me comovem e enternecem são os aniversários de casamentos, de muitos casamentos, de uma vida partilhada com respeito e carinho. Desses sinto inveja. Sempre. E desejo que se mantenham assim unidos por toda a vida.
                          Penso que o que destrói as relações é a falta de amor, ou o pouco amor. Quem ama perdoa. Quem ama compreende. Quem ama ouve. Quem ama mede as palavras antes de pronunciá-las. Quem ama respeita a família de origem do outro, mesmo quando não concorda com ela. Quem ama decide junto. Quem ama prefere trocar carícias a acusações. Quem ama se interessa pela vida e pelos pensamentos do outro. Quem ama torce muito pelo outro.
                         Felizes são os filhos de uma união assim. Os netos. Os bisnetos. E todos que convivem com eles.
                         Essa é a minha maior inveja. Da branca.


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