Não sou uma pessoa invejosa. Graças a Deus!
As coisas que eu gosto e que valorizo são poucas e não se
compram com dinheiro.
Claro que eu ia adorar ter uma casa enorme, com banheira e
piscina, uma mesa comprida para dez ou doze pessoas bem acomodadas, uma
cristaleira antiga cheinha de cristais, um piano de cauda, uma biblioteca com
livros raros e lidos, com luz e temperatura adequadas para escrever e uma
poltrona maravilhosa para ler, várias suítes com camas king, empregadas
perfeitas e educadas, cozinheiras que soubessem preparar comidas light e
saudáveis, babás preparadas para quando meus netos viessem me visitar, enfim,
esses confortos que só os ricos têm. Uma estância para andar a cavalo nos
finais de semana e ver muitas galinhas ciscando, laguinho com patos, essas
coisas que a campanha tem de sobra, além dos churrascos e doces caseiros.
Gostaria muito de ter tido uma vida assim, mas não tive e não morro por isso.
Espero que as pessoas que podem viver assim saibam valorizar e agradecer a
sorte que tiveram e o que herdaram dos seus pais.
Agora, tem uma coisa que eu invejo de verdade! Uma inveja “branca”,
daquelas que não fazem mal a ninguém, só nos deixam loucos de vontade de poder
ser igual.
Minha maior inveja é dos casais que se amam!
Dos casais que se amam verdade, que vivem um para o outro e
depois os dois para os filhos e ainda para os netos, e talvez para os bisnetos.
E continuam se amando. E se preocupando um com o outro. E se beijando na boca.
E se procurando na cama. E viajando juntos. E sempre de mãos dadas, olhando
para o mesmo lado. E não se ofendendo. E não pronunciando palavras duras para o
outro. Vivendo num amor que nasceu no vigor da juventude e foi amadurecendo e
se tornando cada vez mais saboroso, mais macio, mais delicioso de viver. Um
casal que enfrenta junto as dificuldades da vida sem se acusar, mas unindo forças,
erguendo o outro nas quedas, oferecendo o ombro, aconchegando.
Invejo os casais que vivem como os meus pais viveram. Num
amor que nem a cegueira dele e a perda horrível de um filho abalou. E eles
continuaram se beijando na boca, dedicando palavras doces um ao outro e elogios
constantes, estímulos, agrados de quem ama e sabe amar.
Nas redes sociais, as comemorações que mais me comovem e
enternecem são os aniversários de casamentos, de muitos casamentos, de uma vida
partilhada com respeito e carinho. Desses sinto inveja. Sempre. E desejo que se
mantenham assim unidos por toda a vida.
Penso que o que destrói as relações é a falta de amor, ou o
pouco amor. Quem ama perdoa. Quem ama compreende. Quem ama ouve. Quem ama mede as
palavras antes de pronunciá-las. Quem ama respeita a família de origem do outro,
mesmo quando não concorda com ela. Quem ama decide junto. Quem ama prefere trocar
carícias a acusações. Quem ama se interessa pela vida e pelos pensamentos do
outro. Quem ama torce muito pelo outro.
Felizes são os filhos de uma união assim. Os netos. Os
bisnetos. E todos que convivem com eles.
Essa é a minha maior inveja. Da branca.
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