quinta-feira, 12 de novembro de 2015

A VIDA DURA DO ESCRITOR



                           Nunca pensei ser escritora. Mesmo vendo meu nome em tantos livros, alguns só meus, outros coletivos, ainda não me considero escritora. Parece que “escrevinhadora” descreve melhor a minha função.
                          Desde que dona Lígia Leite me ensinou a escrever, com a Cartilha da Lili, em 1960, lá no meu Alegrete, não parei mais de escrever com lápis, caneta, giz, carvão, batom e até pedaços de madeira na areia da praia.
                          Profissão mesmo tive a de professora, de todas as séries, desde alfabetizadora até orientadora dos últimos anos universitários, passando pelos Terceirões, de saudosa memória.
                          Nunca ganhei dinheiro escrevendo. Fui colabora de jornal por quase quarenta anos, sem receber um centavo sequer. Isso que era bem assídua.
                         Quando publiquei meu primeiro livro descobri que o escritor precisava pagar pela edição e depois ainda tentar vender, distribuir, oferecer, encher o saco dos amigos para comprarem. Descobri também que o povo brasileiro acha que comprar livros é jogar dinheiro fora e que livro bom é livro dado, ou emprestado. Pior ainda é quem compra e nem abre o livro para ler.
                         Fiquei feliz com o retorno dos leitores, até hoje não desisti porque as palavras devolvidas foram de muito incentivo. Hoje já são dez.
                        As antologias, maneira democrática de visualização dos autores novos, ou pouco conhecidos, também cobram nossa participação por página ocupada. Sai mais barato, mas nem sempre o resultado final nos agrada, pois os talentos (ou a falta deles) criam um conjunto pouco coeso e nem sempre agradável ao leitor.
                         Os concursos ainda são os mais auspiciosos; mesmo com taxa de inscrição, nos sentimos valorizados por conquistar o direito de fazer parte do livro pelo nosso mérito e não apenas pela quantia investida.
                        Durante muito tempo nos refugiamos em nós mesmos para escrever. Depois vem a revisão, os cortes, os ajustes. Com a editora discutimos cada desenho da capa ou das páginas, a colocação de cada palavra, o tamanho das letras. É, enfim, um trabalho minucioso e desgastante para ambos os lados.
                      Quando o livro chega, enormes caixas aterrizam na nossa sala e ali permanecem até que se faça a distribuição para os familiares, os amigos mais próximos, os colegas, os vizinhos e então os levemos em alguma livraria para pedir que tentem vendê-lo, sempre com preço bem abaixo do que pagamos e ainda sem o menor esforço do vendedor para oferecer livros que não sejam best seller.
                      Bom seria poder doar a quem gosta de ler, ver crianças se deliciando com as histórias que saíram da nossa cabeça, detentas e alunas aprendendo um pouco mais da vida através de novos valores discutidos nos textos, famílias confraternizando e rindo juntas de algumas ironias da cronista, gente que não vê o tempo passar enquanto vira as páginas, enfim, esse seria o destino esperado para os livros, não fosse a necessidade de tentar reaver parte do que foi investido, possibilitando, assim, que outros livros possam nascer e se perenizar.
                     Escrever , para quem gosta, é muito bom, é necessário, é fundamental. Mas vender livros não deveria ser tarefa de quem escreve. É muito diferente, requer outras habilidades.
                    A continuar este estado de coisas, essa dificuldade, esse pouco interesse, acho que guardarei minhas criações literárias em pendrives para, um dia, se alguém quiser e achar que têm valor, publicá-las e vendê-las, ou doá-las como lhe aprouver.
                   Não sou boa vendedora.
                   Espero ser melhor escritora.




Um comentário:

Roselia Bezerra disse...

Olá,querida Maria Luiza
Também não sou boa vendedora... passo pelo mesmo que vc...
Quanto a escrever, é um Dom e não podemos impedi-lo...
Boa sorte!
Bjm fraterno