Quem tem, ou já teve crianças na família, ou ainda quem trabalhou
com crianças na escola sabe que nem todas as crianças são iguais, que umas
precisam ser mais estimuladas que outras, que o temperamento já vem com elas e
que os talentos vão sendo descobertos na medida em que são apresentadas a
diferentes habilidades.
Por exemplo, existem crianças que pintam os desenhos
borrando tudo, não respeitando os limites do traço, enjoando logo da atividade,
enquanto outras, desde que aprendem a segurar o lápis, já demonstram um traço
firme, um gosto pela harmonia das cores e o prazer de colorir as gravuras, ou
desenhar.
Crianças que adoram atividades com números, quantidades,
exatidão e crianças que se aborrecem nessas práticas e preferem letras,
histórias, fantasias contadas e criadas. As aptidões se manifestam desde cedo,
muito embora possam ser cerceadas ou mal conduzidas de modo a bloquear aquela inclinação
primeira e a criança passará a detestar e a ter dificuldade naquilo que
desempenhava com desenvoltura e apreciava tanto, tudo pela má condução do
professor.
Muitas crianças chegam à escola adorando os livros, porque
ouviram muitas historias contadas na família e o professor, com as enfadonhas e
ineficientes fichas de leitura e a obrigatoriedade de ler o livro escolhido por
ele – quase sempre chato – sufoca todo o gosto do aluno até ele se afastar
definitivamente dos livros, achando a leitura tediosa, massacrante e sem uma
pitada sequer de fantasia.
Há crianças que se destacam nas modalidades esportivas, na
dança, na representação teatral. Elas devem ser estimuladas, valorizadas,
elogiadas, para que perseverem e sirvam de exemplo e motivação a outras
crianças. Quando trabalhava com crianças pequenas, costumava dar destaque até
aos alunos que ganhassem um concurso de ioiô, ou de soprar balões. O importante
é saber que dávamos valor à sua habilidade, fosse ela qual fosse.
Montei várias Salas de Leitura nas escolas, as crianças
adoravam, quem às vezes atrapalhava era o professor, porque queria retirar toda
a magia da leitura, da escolha dos livros, exigindo um “retorno”, com as
perguntas enfadonhas do nome dos personagens, moral da história e congêneres.
Toda escola tem suas regras, nem poderia ser diferente. Mas
a flexibilidade e a independência do professor dentro da classe fazem toda a
diferença! Dentro da sala, com meus alunos, mando eu! E não preciso correr para
a equipe pedagógica a todo instante, caso tenha segurança dos meus atos e dos
meus conhecimentos. Foi assim que consegui adiar o trote na Universidade para
uma turma de Engenharia, até que eles estivessem psicologicamente preparados.
Simplesmente afirmando que ninguém tocaria num aluno, ou retiraria alguém da
sala enquanto as aulas fossem minhas.
Um ambiente educacional povoado de reprimendas e leis, onde
os limites são curtos e a liberdade criativa podada ao extremo, onde a criança
não sente a menor valorização por suas conquistas e onde a equipe disciplinar
trabalha mais do que os educadores, só poderá gerar seres limitados, inseguros,
incapazes de voos maiores que os rasantes permitidos e, principalmente, sempre
ansiosos por férias e feriados.
Na verdade, acho até questionável a função de uma equipe “disciplinar”
para crianças de dois a seis anos, por exemplo. Que tipo de infração pode
cometer uma criança dessa idade?! Mil vezes mais contadores de historias e
professores de arte e música!
Penso em professores mais motivadores, gente que ensine a
criar, a sorrir, a ser livre, a ousar, a ter segurança em si mesmo, a
desenvolver suas habilidades até onde alcançar, a não ter medo, a não baixar a
cabeça e os olhos, a não precisar se justificar a todo instante, a brincar
muito – sempre! - a ser CRIANÇA, a ser FELIZ!
Este é o verdadeiro sentido da Educação Infantil! Não sendo
assim, uma boa babá substituirá satisfatoriamente e, ás vezes, até com mais
afeto a ausência dos pais.
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