sábado, 22 de agosto de 2015

O ESCRITOR




                      Ninguém escolhe ser escritor.
                      O escritor é sempre escolhido.
                      E os que, por ventura ou desventura, fizerem essa “escolha”, quase que certeiramente não serão bem sucedidos.
                      O escritor é um ser que se alimenta de ideias e se manifesta por letras. Quando não consegue se expressar vai ficando sufocado, como se as palavras estrangulassem sua garganta.
                      Tido como ermitão, o escritor precisa de momentos de reclusão e paz, possibilitando que as ideias, sempre muitas e até contraditórias, se organizem, tornem-se claras, permitam a transferência do cérebro para os dedos, para a tela, para o papel.
                     Nem sempre a inspiração surge no momento adequado, por isso, blocos e canetas se escondem em todos os cantos da casa, em todas as bolsas, todos os bolsos, para que as ideias não se percam e possibilitem um adequado desenvolvimento das mesmas em seus momentos criativos, sempre solitários.
                     Quem vive de escrever – e esses são raros – podem adaptar sua rotina e horários aos momentos criadores.
                     Já quem escreve porque gosta, precisa e quase não tem nenhum retorno prático com isso, deve ludibriar a rotina a fim de conseguir a plenitude do momento tão especial, que é o de dar vida às suas criações e seus personagens.
                     Aparentemente solitário, na verdade o escritor é super povoado internamente, tem um mundo interior vastíssimo e preza , mais do que tudo, as pessoas que interagem nesse mundo, fazendo eco aos seus pensamentos e à sua forma de ser e viver. Trocas de cartas, de e-mails, de recados nas redes sociais também fornecem o combustível necessário a quem privilegia a palavra escrita.
                      O silêncio de quem escreve é apenas aparente, uma vez que sua cabeça fervilha, as vozes gritam, as situações se sucedem e os dez dedos no teclado tornam-se insuficientes para extravasar tudo o que surge, muitas vezes, aos borbotões.
                       Em outros dias a cabeça descansa, bloqueia, se recusa a sugerir o que quer que seja e essa é a única vantagem de não se escrever profissionalmente, pois, nesses dias, podemos nos dar o direito de desligar a máquina e alimentar o espírito com boas leituras e com a observação da vida e das pessoas, o que constitui, em última análise, o combustível para tudo que se cria.
                        Mesmo aposentada do magistério, tenho uma rotina puxada de filha, mãe, avó e dona de casa.
                        Para driblar a escassez do tempo e do clima adequado à criação literária, acordo muito cedo, encho minha caneca de água gelada e escrevo em paz até que o resto da cidade acorde e os barulhos interrompam a fluidez do pensamento. Ou que o relógio indique que o primeiro compromisso do dia se aproxima. Esta é a minha rotina, acredito que cada escritor tenha a sua. Quando era mais nova e meus filhos crescidos estavam na Universidade, meu horário preferido de escrever era à noite.  Hoje não. À noite estou esgotada, burra, sonolenta e não sai nada que preste.
                        Mudei. Mas continuo escrevendo, porque fui escolhida para fazer isso pela vida afora.
                        Muitos apreciam e leem meus livros. Ainda bem.





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