quinta-feira, 5 de março de 2015

MULHERES




 
Durante as comemorações do Dia Internacional da Mulher, cabe-me, como mulher e ser pensante, analisar um pouco a condição feminina e as razões para que se crie um dia, mais à guisa de alerta do que de homenagem, dedicado ao “sexo frágil”.
Como mudou o papel da mulher na sociedade através dos tempos! Mais do que todos, foi a mulher que melhor espelhou a evolução e/ou o retrocesso da humanidade.
Matriarca, escrava, subjugada e submissa, rebelada, emancipada, exagerada, confusa... MULHER.
Não foi pequena a discriminação sofrida pelas mulheres no século passado e estendida até meados do atual, permanecendo intacta até hoje em alguns recantos deste Brasilzão e na cabeça de muitos homens e até mulheres com estreita visão de mundo.
Algumas artistas, poucas escritoras, certas cantoras e duas ou três coristas ainda conseguiram perpetuar-se na história, possibilitando que se resgate seu valor. E as anônimas e servis esposas, que se limitaram a ficar “atrás de um grande homem”? Sumiram na poeira do tempo, uma vez que “do pó vieram e ao pó voltaram” sem chegar sequer a se materializar.
Mulheres eram dadas em casamento a desconhecidos, humilhadas caso não conseguissem marido ou parindo filhos incessantemente até perderem a saúde.
Quantas mulheres precisaram sofrer, desafiar, se rebelar, protestar para que hoje possamos atuar na vida como protagonistas e não apenas espiando das coxias?!
Quantos pais precisaram ser enfrentados, quantos maridos tiveram que capitular até que os novos homens fossem educados por essas novas mulheres e passassem a respeitá-las?!
É preciso que se lembre que a passagem da condição feminina subalterna para esta de “quase” equivalência não foi amena, tampouco rápida. As meninas, moças e mulheres de hoje não devem esquecer as pequenas e grandes lutas de bravas mulheres que as precederam para que elas pudessem, agora, viver sem medo, com perspectivas, com direitos, com dignidade.
Penso que, em nossos dias, temos duas categorias básicas de mulheres (com “n” subgrupos em cada uma delas): a da mulher substantivo – aquela da dupla ou tripla jornada de trabalho, da marmita preparada antes do sol nascer, do arrimo de família e a mulher adjetivo – aquela dos cremes e perfumes, do consumismo desenfreado, da escravidão estética, da alienação. Como muitas coisas na vida, o ideal seria buscar o meio termo, unir a fragilidade à força, a doçura à determinação, sem violentar a sua natureza, mas tampouco fazendo dela uma bandeira de inutilidade.
Para ter valor é preciso que a mulher se valorize, não tentando se igualar aos homens, pois as diferenças entre os dois sexos é que os aproxima e forma aquela parceria deliciosa a que chamamos casal. O importante é ser respeitada como o homem o é, como um ser humano dotado de inteligência e ideias próprias e não como sua escrava, nem sua sombra; afinal, em muitos casos, a sombra então seria maior do que aquilo que reflete...
Mais feminina do que feminista, a mulher de hoje tem bandeiras mais importantes a levantar do que queimar sutiãs em praça pública ou alardear aos quatro ventos que sabe trocar o pneu furado do carro ou a lâmpada que queimou. E é importante ressaltar que o “machismo” partiu das próprias mulheres, que educaram seus filhos homens como “seres superiores”.
A tendência da inversão de papéis também é improdutiva e vazia, já que os homens não trabalharão menstruados, nem grávidos (pelo menos por enquanto), tampouco amamentarão seus filhos. A negação da maternidade, a rejeição ao fogão, com o recorrente chavão vazio de “eu não sei fritar um ovo!” não habilitam esta nova mulher para exercer outras funções. É preciso mais! É preciso que ela seja efetivamente um ser pensante, participativo, idealista, empreendedor, fraterno, como a maioria dos homens procura ser há bem mais tempo.
Se há alguma bandeira feminina a ser levantada deve ser a favor da mulher pobre, desinformada, abusada pelos patrões e pelo marido, discriminada pelo número de filhos que coloca no mundo por ignorância, mesmo que passe a vida se responsabilizando por eles e tentando lhes dar uma condição melhor. A favor também das mutiladas em rituais de fanáticos, das  espancadas, estupradas e mortas por homens pervertidos e acobertados por uma falsa moral.
Que a sociedade ampare e promova estas mulheres – substantivo concreto e invariável – para que não seja mais preciso criar um dia de conscientização mundial, como este oito de março!





Um comentário:

Ana Lúcia Carbonell Martins disse...

Amei teu texto Maria Luiza!
Nélson Rodrigues é muitas vezes mal compreendido ou mal interpretado!
Aproveito para desejar um feliz dia da mulher!