segunda-feira, 23 de junho de 2014

SELFIES




                    Nosso povo sempre gostou de estrangeirismos. Macaquices.
                    Em outros tempos, copiávamos tudo dos franceses e da língua francesa, até os passos de dança eram (acho que ainda são) cantados na língua de Sartre.
                    Hoje em dia, é tudo imitação (muitas vezes bem mal feita) dos americanos e da língua inglesa. Aliás, os americanos são o único povo que só sabe falar uma língua – a deles.  Estão pouco se lixando para as demais e quem quiser se comunicar com eles que vá aprender a falar inglês.
                    No sul do Brasil há muita influência do castelhano, um espanhol dos povos colonizados, mas a língua oficial é o portunhol mesmo.
                    Pois agora inventaram essas tais de “selfies”, que não passam de uma fotografia da própria pessoa, tirada pela própria pessoa, porque não há mais ninguém disponível para fazer isso. Os novos aparelhos celulares já vêm com câmeras dos dois lados, favorecendo as caras e bocas dos seus portadores, nos lugares e momentos mais inusitados, enfeitando as páginas (paupérrimas) das redes ditas sociais, mas que, no fundo, não aproximam ninguém, resumindo-se a uma competição enfadonha de egos.
                     O individualismo, o egocentrismo é a tendência da época, quem sabe oriundo do advento dos filhos únicos, quiçá decorrente das separações dos casais e do abandono dos filhos, ou pelo fato de não haver segurança fora de casa (e às vezes nem dentro dela), o fato é que as pessoas estão cada vez mais solitárias, muitas por opção, algumas por contingência.
                    Já existem porções individuais de comidas e bebidas, embalagens menores de quase todos os produtos, protetores solares em spray para serem aplicados pela própria pessoa, enfim, cada um se virando como pode para sobreviver numa sociedade que se fecha em círculos cada vez menores até chegar ao ser único, falsamente sorrindo naquela “selfie”.
                     Prato cheio para psiquiatras, psicólogos, antropólogos, sociólogos, a humanidade se tornou adepta do prazer solitário e, não raro, vemos pais e mães de família ignorando os filhos para teclar alucinadamente num joguinho de computador que pode lhe distrair a mente, pode lhe viciar, mas jamais completará suas carências e as lacunas insondáveis do seu viver.
                      Hoje vemos pessoas que já não conseguem mais conversar com a boca e os olhos, mas apenas com os dedos. Se juntas, bocejam, entendiam-se. Se do outro lado do teclado do aparelhinho que carregam como amuleto até para o banheiro, se animam, falam sobre mil coisas, opinam.
                     Para que as redes sociais cumpram seu papel, é preciso que se estendam ao mundo real, principalmente à família, aos colegas de trabalho, aos vizinhos. Caso contrário, uma pessoa se arrumando diante do espelho, fazendo caras e boas, experimentando roupas e penteados para pegar um celular e ficar se fotografando pode significar muitas coisas, pode até causar uma satisfação momentânea, no entanto, jamais substituirá aquelas fotos enormes de gente morrendo de rir, alguns de olhos fechados, outros quase caindo, mas registrando uma felicidade genuína, uma alegria que só o contato humano proporciona.
                     Cuidado. Momentos de privacidade são criativos, necessários. Isolamento constante já é outro caso. E não será uma rede social que compensará tudo.
                      Deixar de curtir um bom filme, uma peça de teatro, um show, um livro, um ótimo jantar, a companhia dos filhos e dos amigos para ficar preso a uma maquininha, registrando e enviando tudo imediatamente a nem sabe quem, é um sinal claro de que alguma coisa não vai bem na sua vida.
                      Preste atenção!






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