Já dizia Nelson Rodrigues, dramaturgo apaixonado por
futebol, que futebol era “a Pátria de chuteiras”. Pode parecer bobagem, mas
ontem, no jogo do Brasil com o Chile pelas oitavas de final da Copa do Mundo,
sediada em nossa casa, era isso mesmo que parecia.
O coração da grande maioria dos brasileiros estava
batendo no compasso das pernas, dos pés e das chuteiras de cada jogador
brasileiro e nas mãos do goleiro Júlio César durante as cobranças de pênaltis.
A angústia, o nervosismo era tanto que não sei
quantos corações suportarão os próximos jogos, cada vez mais difíceis.
Isso que eu nem gosto de futebol! Vibro muito mais
nas Olimpíadas, com as modalidades esportivas mais do meu gosto e com maior
variedade de apresentações.
Que encanto apaixonado é esse então que não nos deixa
desgrudar os olhos da TV, que acelera nossos batimentos cardíacos, umedece as
mãos, empalidece ou ruboriza o rosto?
Por que nos vemos naquelas camisas amarelas, naqueles
cabelos feios, naqueles rostos suados? Como esquecemos dos milhões que eles
ganham e do pouco que conseguimos receber por nosso trabalho, das fortunas
investidas nos estádios superfaturados, da truculência hostil da FIFA e de todo
discurso politicamente correto pré-Copa?
O que desperta o nosso patriotismo de forma tão
exacerbada, a ponto de assistirmos crispados a cada chute e libertarmos um
grito salvador na hora do gol?
É o Brasil, nosso país verde-amarelo, repleto de
belezas naturais e coisas erradas, com um povo fleumático e apaixonado, que o
defende com unhas, dentes e...chuteiras!
Sediar a Copa do mundo serviu, entre outras coisas,
para os pequenos aprenderem o Hino Nacional, para empunharem a bandeira, para
conhecerem o nome, as cores e as bandeiras de outros povos. Se bem orientados,
eles podem usufruir de muito conhecimento, além dos passes e dribles dos
gramados.
Vendo seus familiares adultos na torcida eles
aprendem a sentir a paixão dos maiores por sua pátria, coisa bem pouco demonstrada
por eles no dia a dia e nas conversas em família.
Vamos fazer uma gostosa limonada com esses limões que
a vida nos está oferecendo e bebê-la com prazer a cada jogo, valorizando os
acertos e poupando as críticas destrutivas e as comparações difíceis.
Somos brasileiros e, se o futebol está servindo para
nos unir em torno de um momento único, com os corações em uníssono,
indiferentes ao sotaque, à aparência, ao recanto do país onde nos encontramos,
é porque, acima de tudo isso, temos uma unidade que nos abarca nesse país
continental – a nossa brasilidade.
Vamos juntos! De mãos dadas, boa entreaberta, coração
sapateando no peito, vamos sofrer mais um pouco e torcer sempre pela vitória da
nossa seleção.
O Brasil se abriga mesmo, naquele momento, nos pares
de chuteiras que vestem a camisa canarinho. E, por sinal, que belas chuteiras!
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