Este texto foi escrito durante a Copa do Mundo de 2006.
Promessa é dívida!
Pelo menos para mim. Prometi que caminharia nos primeiros jogos do Brasil nesta
Copa de Mundo de Futebol e caminhei. Prometi também que escreveria sobre essa
nova experiência e aqui estou para relatar o que vi e senti.
Nos dois primeiros
jogos estava em Alegrete.
No primeiro, assisti ao Hino Nacional, calcei os tênis e fui
andar. Parecia que Galvão Bueno ia ao meu lado, pois de todas as casas saía a
voz dele. Ruas semidesertas, apenas mulheres (poucas) carregando sacolas e
insistindo em comprar.
Dei uma volta grande, refletindo que meu perfil não se
enquadrava no daquelas poucas pessoas que encontrei pelas ruas e, portanto, eu
deveria estar em casa em frente à TV. Quando passava pelo calçadão vazio, com
uma ou outra criança pequena brincando, ecoou, de dentro dos prédios, casas,
lojas, aquele grito de alívio: ”- GOOOOOOOL!” E cornetas, risadas,
fogos de artifício encheram o céu alegretense. Senti um arrepio da ponta dos
pés à raiz dos cabelos, como há muito tempo não experimentava. E voltei para
casa.
No segundo jogo, na
hora do almoço, resolvi pilotar o fogão. Nem sei como a lasanha deu certo, pois
minhas orelhas cresciam em direção à sala e não resisti à tentação de me sentar
com os outros no segundo tempo.
Hoje, em Florianópolis,
assisti ao terceiro jogo de cabo a rabo. E dei sorte! Que belo jogo e que
resultado promissor! Achei a torcida brasileira fria, quieta, quase sem
bandeiras. Parece que os ricos não gostam muito de torcer. E fiquei imaginando
levar um avião lotado de uma torcida de clubes, como os “Manos” do Corinthians,
por exemplo, aqueles das touquinhas pretas que seriam capazes de roubar todas
as máquinas fotográficas dos japoneses, invadir o gramado, xingar o Zico, mas
certamente fariam uma super comemoração a cada gol.
Depois pensei no
Ronald, o filho do Ronaldo, aquele mulatinho rechonchudo que aparece nas
revistas. Ronaldo teve uma infância pobre, difícil, com problemas familiares,
pais separados, etc. Milene foi uma menina bonita, também pobre, que fazia embaixadinhas
com a bola. Hoje, ambos vivem na Europa, Ronaldo com uma trajetória consagrada
no futebol mundial e ela virou modelo, apresentadora de TV, jogadora e está
radicada na Itália. Logo, o pequeno Ronald, se souber aproveitar a educação europeia e as facilidades dos pais famosos, tem tudo para ter uma vida mais tranquila. O perigo é a premissa, que não deve ter sido criada por acaso: “-
Pais ricos, filhos nobres, netos pobres.” Tomara que não, ou que o
menino herde a habilidade dos pais com a “gorduchinha”, pois aí terá seu futuro
garantido, pelo menos no Brasil.
Nesse momento
verde-amarelo, em que todos os problemas do povo brasileiro parecem minimizados
se o Fenômeno
balançar a rede, penso que darei mais uma bola de presente ao meu
netinho no seu terceiro aniversário, já que ele gosta tanto. Quem sabe? ...
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