segunda-feira, 30 de junho de 2014

CAMINHANDO NA COPA



Este texto foi escrito durante a Copa do Mundo de 2006.


Promessa é dívida! Pelo menos para mim. Prometi que caminharia nos primeiros jogos do Brasil nesta Copa de Mundo de Futebol e caminhei. Prometi também que escreveria sobre essa nova experiência e aqui estou para relatar o que vi e senti.
Nos dois primeiros jogos estava em Alegrete. No primeiro, assisti ao Hino Nacional, calcei os tênis e fui andar. Parecia que Galvão Bueno ia ao meu lado, pois de todas as casas saía a voz dele. Ruas semidesertas, apenas mulheres (poucas) carregando sacolas e insistindo em comprar. Dei uma volta grande, refletindo que meu perfil não se enquadrava no daquelas poucas pessoas que encontrei pelas ruas e, portanto, eu deveria estar em casa em frente à TV. Quando passava pelo calçadão vazio, com uma ou outra criança pequena brincando, ecoou, de dentro dos prédios, casas, lojas, aquele grito de alívio: ”- GOOOOOOOL!” E cornetas, risadas, fogos de artifício encheram o céu alegretense. Senti um arrepio da ponta dos pés à raiz dos cabelos, como há muito tempo não experimentava. E voltei para casa.
No segundo jogo, na hora do almoço, resolvi pilotar o fogão. Nem sei como a lasanha deu certo, pois minhas orelhas cresciam em direção à sala e não resisti à tentação de me sentar com os outros no segundo tempo.
Hoje, em Florianópolis, assisti ao terceiro jogo de cabo a rabo. E dei sorte! Que belo jogo e que resultado promissor! Achei a torcida brasileira fria, quieta, quase sem bandeiras. Parece que os ricos não gostam muito de torcer. E fiquei imaginando levar um avião lotado de uma torcida de clubes, como os “Manos” do Corinthians, por exemplo, aqueles das touquinhas pretas que seriam capazes de roubar todas as máquinas fotográficas dos japoneses, invadir o gramado, xingar o Zico, mas certamente fariam uma super comemoração a cada gol.
Depois pensei no Ronald, o filho do Ronaldo, aquele mulatinho rechonchudo que aparece nas revistas. Ronaldo teve uma infância pobre, difícil, com problemas familiares, pais separados, etc. Milene foi uma menina bonita, também pobre, que fazia embaixadinhas com a bola. Hoje, ambos vivem na Europa, Ronaldo com uma trajetória consagrada no futebol mundial e ela virou modelo, apresentadora de TV, jogadora e está radicada na Itália. Logo, o pequeno Ronald, se souber aproveitar a educação europeia e as facilidades dos pais famosos, tem tudo para ter uma vida mais tranquila. O perigo é a premissa, que não deve ter sido criada por acaso: “- Pais ricos, filhos nobres, netos pobres.” Tomara que não, ou que o menino herde a habilidade dos pais com a “gorduchinha”, pois aí terá seu futuro garantido, pelo menos no Brasil.
Nesse momento verde-amarelo, em que todos os problemas do povo brasileiro parecem minimizados se o Fenômeno balançar a rede, penso que darei mais uma bola de presente ao meu netinho no seu terceiro aniversário, já que ele gosta tanto. Quem sabe? ...








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