Meu beija-flor continua sendo com hífen. Acho que ele fica mais elegante assim,
já que bate as asas, voa para trás, come horrores e tem um coração que é quase
todo ele e bate num ritmo muito acelerado. Como o dos namorados, por
exemplo. Ou dos e-namorados, melhor dizendo.
O amor sempre volta à pauta, ainda que não seja tão evidente como em
outros tempos.
Você conhece alguma pessoa apaixonada? Mas apaixonada pra valer, daquelas
paixões de tirarem o fôlego, a concentração, a razão?
Não
sei se é apenas impressão minha, todavia não sinto mais aquele clima de paixão
no ar. Parece que as pessoas estão ambiciosas demais, racionais demais,
cansadas demais para se apaixonarem daquele jeito avassalador que caracterizava
as grandes paixões.
Sabem
que tem muita gente que passou pela vida sem jamais sentir os famosos
calafrios, pontadas no estômago, joelhos bambos e olhos de um brilho
incomparável? Mal sabem eles o que perderam... É claro que também
economizaram sofrimentos, noites de insônia, mar de lágrimas e uma fonte inesgotável
de desculpas esfarrapadas. Alguns podem achar que foi melhor assim, outros
não deixariam de viver um grande amor pelo receio dos incômodos.
E
aqueles casais que batiam o olho e nunca mais se separavam, deixando tudo e
todos para trás e vivendo um grande amor a partir do primeiro encontro? Com
Jorge Amado e Zélia Gattai foi assim. Com Tarcísio Meira e Glória Menezes
também.
Mário
Quintana viveu polida e platonicamente apaixonado; Vinícius de Moraes
transpirava paixões em sua música e os poetas em geral, quanto mais sofriam por
amor, melhor poetavam.
Namorar é muito bom, amar é muito bom, pena que o casamento às vezes rotinize
tudo e acabe com a poesia. Dizem que é um mal necessário, talvez seja.
Não
sei se as paixões diminuíram ou se meus olhos da maturidade me fazem enxergar
as coisas sobre outro prisma. Sei que o sexo aumentou, que a pouca vergonha
também, mas isso não é paixão, muito menos amor! Ir pra cama com várias pessoas
diferentes, em camas diversas e por aí afora não quer dizer que a pessoa
realmente saiba o que é se apaixonar e viver um grande amor.
Namorado
que se preze tem que ser como o beija-flor - feito de coração, de doçura, de
batimentos acelerados, de frenesi. Se não for assim, será apenas representativo de mais uma data
comercial para enriquecer as joalherias, os donos de restaurantes e as
floriculturas. Tudo isso é muito bom, faz parte. É a moldura para a
comemoração de um grande amor. Só que, nenhum porta-retrato, por mais belo e
valioso que seja, se mantém sem uma foto dentro.
Tomara que ainda se incendeiem
de paixão as alcovas, que continuem se gastando os batons no beijos e que os namorados sejam dois beija-flores
acelerados, inundados pelo sentimento mais valioso e antigo do mundo - o amor!
2 comentários:
Você sempre fala do amor com uma paixão de quem conhece a fundo esse assunto, bela crônica para reflexão sobre o sentimento que mais se fala mas que pouco se conhece. Parabéns, adorei
É Juçara, acho que conheço mesmo, passei pela vida apaixonada!
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