Quem me acompanha há mais tempo sabe dos meus dissabores com a construção de um
prédio ao lado das janelas dos quartos do meu apartamento.
No
início havia a casa de uma simpática velhinha, com sua horta, suas galinhas,
seu silêncio de velha.
Depois que os filhos fizeram-na vender a casa e a mesma foi demolida, o
terreno ao lado se transformou num playground
para pássaros,
de todos os tipos e cores, que nos garantiam o mais mavioso despertar todas as
manhãs.
Como tudo que é bom costuma durar pouco, dessa vez não foi exceção. O terreno
foi vendido a uma construtora que fabricou um espigão de nove andares
praticamente dentro da casa da gente.
Hoje
nem vou me referir à serra elétrica, ao cheiro forte de madeira, às vidraças
salpicadas de concreto e à barulheira e sujeira comuns nestes lugares. É tempo
perdido.
Bom
seria mudar para outro lugar melhor, de melhor vista e melhores ares, mas minha
mãe mora no mesmo prédio, minha netinha e seus pais também, então o jeito é
aguentar.
Numa
segunda-feira em que fui mais uma vez despertada com os peões chegando na obra,
já aos gritos, risadas e cantorias antes das 7h, colocando o assunto em dia,
contando das bailantas, recapitulando cada gol do final de semana, senti
saudade das minhas chegadas na escola,
do reencontro com os colegas, do cafezinho para espantar o sono, do bom-dia com
cheiro de sabonete e pasta de dentes, das novidades, dos comentários dos
jornais, dos elogios (sempre tem um mais gentil), enfim, dos colegas de
trabalho.
Também
sinto saudades das aulas de português, principalmente dos desafios da análise
sintática, dos alunos do Terceirão, dos seminários de literatura.
Trabalhar
é bom, é vida, é sentido para ela!
Não
fosse meu compromisso com a Bruna e com a minha mãe, que me faz continuar a ter
horários rígidos, faça sol ou chuva, penso que me sentiria mais perdida e vazia
ainda.
É bom ter hora para acordar, tomar banho, escolher uma roupa bacana e sair de
casa, mudar de ambiente, conversar com outras pessoas, sentir que somos úteis.
Saudade
dos meus colegas, que foram, sem exceção, uma segunda família para mim!
2 comentários:
Que pena, não apareci nessa!...
Era a turma da manhã Lobinho!
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