domingo, 23 de setembro de 2012

ENGANOS




“Um erro em bronze é um erro eterno”, disse o poeta Mário Quintana, justificando sua dificuldade para escolher um poema que seria colocado numa placa de bronze em sua cidade natal (Alegrete – RS).
Mário não quis errar em bronze, enquanto tantas pessoas erram em sangue e carne, fazendo filhos sem querer, por pura incontinência sexual, e depois os renegando pela vida afora.
Para os pais, os filhos demoram um pouco a se tornar realidade, uma vez que não os carregam no ventre, não sentem seus chutes, nem as dores do parto.
Quando a paternidade não é desejada, mas há convivência, aos poucos o amor vai surgindo, o bebê vai conquistando e ocupando o espaço que lhe é de direito. Entretanto, há pais que a lei consegue obrigar a reconhecer seus filhos e a pagar pensão alimentícia a eles, todavia não há lei que os obrigue a vê-los, cuidá-los, amá-los.
Quem perde mais com isso? O filho que se criou sem pai, ou o pai que não teve o amor do filho?
Conheço um casal que estava noivo, apaixonado, quando veio a notícia de que ele havia engravidado uma antiga namorada, menor de idade.
A família o enxotou para outra cidade, resolveu brigar na justiça, fez de tudo para impedir aquele jovem de assumir seu compromisso, alegando que ele tinha um futuro a construir e não seria com aquela menina tão limitada.
A noiva era também uma menina, quase da mesma idade, mas tinha família, nome, virtudes, talentos e nem suspeitava das vilanias que trouxeram seu noivo à sua cidade.
Quem errou mais? Quem foi mais vítima? A noiva e a criança, certamente, pois não tinham culpa de nada e nunca souberam a história por inteiro.
Para não perder o casamento, o noivo jura inocência até o final e as famílias são coniventes, escondem tudo da mocinha, a fim de que nada desestabilizasse aquele lar recém formado.
Onde já se viu um casamento edificado sobre um castelo de mentiras dar certo?
10, 20, 30 e tantos anos depois... lá está ele, nas redes sociais, ostentando os traços e o sobrenome do pai que o renegou, aproximando-se da família, pouco a pouco reunindo-se àqueles que têm seu sangue e sua cara.
Será que basta? Mesmo que haja um encontro, será que vai compensar uma ausência tão prolongada?
Filhos adotivos são mais fáceis de amar do que filhos biológicos criados tão distante. A convivência é fundamental. O colégio, a febre, o futebol, o machucado, o colo, a torcida, o abraço... isso não tem preço, nem conserto. Existe ou não existe e tem que ser na hora certa.
Pais, filhos, é preciso muito mais do que um sobrenome, ou uma certidão de nascimento para sacramentar esta relação. Fazer filhos é fácil, para os jovens cheios de hormônios é fácil até demais. Só que isso não os torna pais.
Ser pai é ser como meu avô, como meu pai, como os meus filhos (que pais extraordinários!), o anjo da guarda dos seus filhos 24h por dia, todos os dias.
Fora isso, será sempre apenas um traço fisionômico ou as letras de um sobrenome. Muito triste.


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