Não é fácil falar sobre o gaúcho,
exatamente porque muita gente já falou e, mesmo sem esgotar o tema, acabamos
caindo no mesmo discurso da valentia, da coragem, da limpidez do olhar, da
autenticidade.
Por não entenderem as razões que
levaram os gaúchos a pegar em armas e demonstrar bravura, muita gente os
considera petulantes, exibidos, metidos a valentes. Todavia, nenhum outro estado
da união teve que brigar tanto para continuar sendo brasileiro. Até hoje o
Uruguai e a Argentina espicham o olho gordo para o pampa gaúcho,
verdadeiramente semelhante ao deles, com indisfarçável cobiça. Mas os gaúchos
são e serão sempre brasileiros.
O
que é ser gaúcho afinal?
Em primeiro lugar, é ter nascido no
Rio Grande do Sul. Os gauchos (sem
acento) dos países vizinhos que me perdoem, mas para mim são falsificados,
apesar do pampa e dos costumes parecidos. Se nascer em Alegrete ou em Bagé
então, será mais gaúcho ainda!
O verdadeiro gaúcho conhece (e segue)
todos os costumes campeiros, mesmo sem nunca ter morado numa estância.
Diz Veríssimo que a “termo” (garrafa
térmica) deu mobilidade ao gaúcho, então a roda de chimarrão, originária dos
galpões, ganhou praças, praias, lojas, escolas, bancos, qualquer lugar. Ele toma
mate quente, inclusive, na beira da praia, com um “sol de rachar mamão” (que o
certo é mamona).
Almoço de domingo é churrasco e o
resto é perfumaria. Paleta de ovelha é a carne mais apreciada. E só sal grosso,
nada de molhos ou temperos.
Cavalo é o melhor amigo do homem e
cusco é cusco.
Gaúcho só torce para um time, se não
for para o Internacional, será para o Grêmio. E ponto. Nem a seleção brasileira
vale mais para ele que seu time do coração.
Ser gaúcho é também olhar com cara de
pena para aquele que conta piadas em que o papel do gaúcho é sempre o do veado.
Sacudir a cabeça e pensar com seus botões: - Inveja mata!
Guri, gurizinho, gurizote, guria,
guriazinha; doce de festa é “negrinho” e misto quente é torrada. Pão é d’água
ou sovado, além do tal “cacetinho”. Nem vou me estender nesta área porque
diferenças regionais existem no país todo e não é isso que compõe a essência do
gaúcho.
Para mim, a maior diferença que
percebo é o patriotismo exacerbado, o valor dos costumes, o orgulho da terra e
do povo. As crianças já aprendem desde pequenininhas a amar sua terra e a
preservar sua tradição. O folclore riquíssimo é cuidadosamente passado de geração
a geração, mesmo que cada vez menos os gaúchos vivam na zona rural e mais nas
cidades.
Encontramos gaúchos em toda parte,
dentro e fora do Brasil e são reconhecidos pela sua simpatia, sorriso aberto,
olhar franco, voz forte e pausada, usando “Bah” a toda hora, como interjeição.
Agora, se em qualquer desses lugares,
bem longe do pago, de repente tocar o “Canto Alegretense”, vocês verão que os
fortes, os bravos também choram, se emocionam e morrem de saudades da sua
terra.
Parabéns
gauchada por mais um 20 de setembro!
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