sábado, 9 de junho de 2012

BRAVA SEGUNDA CLASSE!


Se é que existe realmente uma distinção de classes sociais na espécie humana, penso que a "primeira classe" é bem mais sem graça que a segunda, porque uniforme, imitadora, globalizada, sem acentos regionais, podendo pertencer a qualquer país, desde que preencha alguns requisitos como: falar inglês e francês; usar grifes mundialmente famosas; possuir um closet repleto de roupas e sapatos assinados e por aí afora, numa lista imensa de futilidades que me canso até para enumerar.
Já a "segunda classe" é muito mais divertida, peculiar, representativa, genuína. E amplamente menosprezada por aqueles que se julgam num degrau acima do resto da humanidade.
Vejam o caso dos nordestinos, por exemplo. Criados no sol, no calor, com pouquíssima roupa e precisando abandonar sua terra e sua gente para vir trabalhar nos sul, onde há, pelo menos, subempregos. Aqui se submetem ao frio, ao deboche, às agressões verbais, como se fossem mesmo cidadãos de segunda classe.
Em contrapartida, pessoas de todas as regiões do país, principalmente do Sul e Sudeste, viajam sistematicamente ao Nordeste, em busca das praias de águas mornas, dos frutos do mar, dos forrós, das festas juninas, das danças típicas. Só gostariam de poder tirar o povo de lá, apossando-se da terra também, como patrimônio das regiões mais ricas e menos ensolaradas.
O Nordeste é lindo, quente, alegre e não deve nada às demais regiões, mais ricas, de temperaturas negativas, onde as roupas grossas, bons vinhos, chocolates, fondues e churrascos são reservados apenas à primeira classe.
Ser pobre no sul do Brasil é duas vezes mais triste, porque passar fome num frio de rachar dói ainda mais.
Por isso, essa imaginária divisão de classes é ainda mais ingrata para os sulistas. Uma coisa é passar fome estendido numa praia de areias quentes, com coqueiros à vontade e peixes na rede; outra é se encolher debaixo de um viaduto ou sob marquises, deitado em papelões, ouvindo o roncar das próprias tripas.
Para uma humanidade que sabe o quanto a vida é efêmera e que ninguém consegue comprar o adiamento da morte, há orgulho demais por aí...
Ao invés de separar os homens em classes, que tal tratar melhor da classe "humana"? Hein?!

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente texto, adorei a comparação. Realmente, por que tanta soberba por parte de alguns? Abraços, Elizabete