sexta-feira, 22 de junho de 2012

ARREPENDIMENTOS


Desde a adolescência, li em algum lugar e passei a repetir que "só me arrependia do que não fizera", numa demonstração de autosuficiência prematura e vazia de sentido.
É claro que me arrependo também de muitas coisas que fiz e não deveria ter feito! Sou humana e vivo errando, como todo mundo.
Ontem, caminhando pelas ruas ensolaradas do meu bairro, ia, como sempre, matutando.
Saí de casa aos dezoito anos, para casar. Saí da minha cidade aos vinte e um, por conta da profissão do meu então marido.
Embora meus pais sempre me visitassem e eu a eles, perdi muitos anos de carinho, segurança e troca afetiva  e eles perderam muito dos netos que amavam tanto.
Muitíssimos anos depois, quando minha mãe ficou idosa e sozinha, eu a trouxe para perto de mim e ela rejuvenesceu. Hoje nem parece ter noventa e três anos. Mas tem. E isso me apavora. Vivemos tentando compensar o tempo perdido e ela continua sendo minha melhor amiga e a pessoa em quem mais confio na face da terra.
Não tem como não pensar. Se o casamento que me tirou da minha terra e me afastou da família acabou, terá sido tudo em vão? Tanta saudade, tanto trabalho para criar os filhos sozinha, longe de todos, terá mesmo valido a pena?
Hoje sou eu que sofro a ausência dos filhos. Também eles partiram em busca de realização profissional. Nós sempre fomos "mosqueteiros" (um por todos e todos por um), não foi nada fácil desmembrar nosso quarteto, não é fácil até hoje. Felizmente, dois já voltaram, mas o "menor" continua construindo aviões lá longe. Será que, um dia, eles também irão se arrepender do tempo que perderam na convivência familiar?
A verdade é que vivemos como se não houvesse amanhã. E há! E o tempo não volta, não dá segunda chance, nem sequer pára um pouquinho a fim de tomarmos as decisões mais refletidamente.
A nossa vida é sempre um resultado das escolhas que fazemos. Sempre poderia ser diferente, SE tivéssemos escolhido outros caminhos.
Por isso, o jeito é rezar para enxergarmos com lucidez a estrada à nossa frente e torcer para que ela nos leve exatamente aonde queremos chegar.
Sem arrependimentos.

Um comentário:

Anônimo disse...

O que podemos fazer com a nossa cabeça? Só não iremos nos arrepender se pararmos de pensar, se deixarmos de ser humanos! Ótimo texto. Elizabete