Nunca fui bonita. Pelo menos não constantemente. Tive meus momentos radiantes
onde, após acertada produção e bastante emoção, o espelho me devolvia uma
imagem agradável de ver.
Também
nunca fui complexada por isso, até mesmo porque os engraçadinhos de plantão não
poupavam seus assovios e piadinhas de gosto duvidoso à minha passagem.
Isso por muito tempo...
Fui educada para cultivar, também e por excelência, a beleza interior, a
retidão de caráter, os valores, desenvolvendo ao máximo as aptidões e talentos
com que fora brindada.
Agora, nos áureos tempos, nossa turma de moçoilas dava um caldinho refinado,
com suas minissaias, seus cabelos compridos e os olhos delineados, além das
cinturinhas finas conquistadas nas aulas de Educação Física. Enchíamos-nos de
Vertige (da Coty) ou de Toque de Amor (do Avon) e dançávamos a noite toda, sobre
saltos bem altos que muitas vezes nos massacravam os pés. Parece que essa
questão de conforto veio depois, para nós o que importava era que o sapato
fosse lindo, ainda que o couro não fosse macio.
Por
que estou lembrando tudo isso? Foi depois de passar os olhos no jornal da minha
terra, vislumbrando algumas contemporâneas, que o assunto me ocorreu. Parece
que quase todas aquelas beldades engordaram, envelheceram, ficaram com a cara
de suas mães. É claro que elas devem pensar exatamente o mesmo de mim, com toda
a razão!
Talvez
por isso sempre tenha achado meio deprimente essa coisa de comemorar tantos
anos disso e daquilo. Penso que a saudade é o que menos move tais eventos, o
importante parece ser a constatação e a competição para ver quem se conservou
melhor ou pior. Afinal, colegas que se importam dificilmente perdem o contato e
não precisariam de uma data e local para passar a limpo a vida depois da
escola. Aposto mais na curiosidade como mola propulsora dessa saudade repentina,
que não é exatamente ou somente dos colegas, mas da gente mesmo e dos tempos em
que éramos mais leves, mais soltos, com muito mais momentos felizes e
emocionantes.
Naquele
tempo as festas de 15 anos se superavam em beleza e organização. Fazíamos um
"bolo vivo" com quinze casaizinhos, cada um segurando uma vela que a
aniversariante ia rodopiando na pista de dança com seu pai e assoprando.
Com algumas variantes, a base era essa. Pois bem, fiquei imaginando, com o jornal
na mão, as quinze beldades, em seu estado atual, desempenhando aquele papel...
Ou que nos mostrassem, naquela época, em quem nos transformaríamos anos
depois... A não ser aquelas bem recauchutadas, todas com a cara da Ana Maria
Braga e do Michael Jackson, além da boca de boneca inflável, as demais
certamente levariam um baque.
Menos mal que descobrimos outras virtudes no passar do tempo. São elas que nos
dão suporte para enfrentar o encontro com as ex-beldades do nosso tempo de
jovens. E sobreviver!
Um comentário:
a velhice é democrática, as mais belas ficam menos belas, e as mais feias menos feias, ocorre o mesmo com homens, é claro. eu acho que velho é tudo igual. quanto à questão da competição, não vou na esquina sem uma produção básica que inclui baton, bijus, perfume, cabelos sempre com corte em dia e pintura idem.
morro de medo de encontrar alguém do passado e sair dizendo que virei bagulho! rsrsrs
beijos
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