domingo, 24 de outubro de 2010

SONHO MEU

              Não sou de sonhar muito, pelo menos não dormindo. Ou não lembro muito dos meus sonhos. De qualquer maneira, há muito meu sono é intercalado pela insônia, durmo aos bocaditos , um sono de má qualidade. Coisas da idade e dos problemas que surgem com ela.
            Hoje sonhei. E, no melhor do sonho, precisei levantar para fazer xixi. Voltei correndo para a cama, de olhos fechados, querendo continuar o sonho, entretanto ele acabou e eu fiquei à espera do abraço que já ia dar no meu pai. Ele tinha chegado de carro, com minha mãe e minha avó, como tantas vezes chegaram na minha casa. De longe vi seu sorriso, seus óculos de aviador, seu boné do Aero Clube de Alegrete e saí, com meus três gurizinhos, numa debandada para o imenso e aconchegante abraço. Nesse exato momento acordei.Que lástima!
            Há quase onze anos meu pai partiu. Heroicamente, esperou formar o último neto e, mesmo cego e sem poder usufruir das únicas coisas de que realmente gostava, além da família, que era voar e ler, ele suportou seu calvário de ter que se transformar numa pessoa "auditiva" (ele que sempre fora de poucas palavras), para poder ajudar a família, que dependia bastante dele.
             Meu pai sempre foi meu ídolo, mesmo exigente, linha dura, inflexível. Ele gostava de música como eu e me incentivava a tocar vários instrumentos. Eu o admirava pela retidão de caráter, pela cultura, pelo amor à família (principalmente aos netos) e pela paixão de uma vida toda pela aviação.
            E nesta noite eu o revi, em sonho. Não consegui concretizar o abraço para o qual corri, mas vi seu sorriso, suas mãos, seus olhos ainda vivos. Tenho saudade da minha voz chamando "-Pai!".
           Quem sabe noutra noite dessas ele volta e a gente consegue matar mais a saudade e conversar um pouco, como sempre fazíamos em sua chegada.
           E vamos ao domingo!

3 comentários:

Francisco Carlos D'Andrea (francari) disse...

O sonho é bom enquanto sonhamos e triste quando acordamos; a saudade é uma dor que nunca cessa.
Você, que é mestra da palavra, soube retratar muito bem isto no texto.

Mila disse...

Maria,
Enquanto lia,parecia q estava enxergando seu Ramos.Impressionante!!Que consigas finalizar teu sonho,com AQUELE abraço de teu pai!!
Beijos !!!

Anônimo disse...

Emocionante sua crônica a resepeito de seu pai - Gaudêncio Ramos - que conheci em Alegrete. Moramos em Alegrete, durante quatro anos, bem na descida da rua Barão de Cerro Largo. Seu Ramos havia sido apresentado a mim, pelo amigo em comum Nilton Coradini, também aviador, que era funcionário da Souza Cruz. Eu substituí Nilton Coradini, na função, tendo assumido em 1971. Antes mesmo de morar em Alegrete, já visitara a cidade, por diversas vezes, substituindo funcionários em férias. Após, efetivado, foi quando morei, aí sim, com a família - esposa e duas filhas - em Alegrete. Tenho grandes lembranças de Alegrete, onde conseguimos grandes amigos e nos relacionamos muito bem, naquela querida cidade. Atualmente moramos em São Leopoldo, após termos passado por Santo Angelo. Não tive muitos contatos com o Sr. Ramos, já que, tão logo passamos a morar em Alegrete, Coradini transferiu residência para Uruguaiana, onde mora até o momento; todavia, você escrevendo sobre ele, seu pai, faz-me lembrar de meu querido pai, falecido em 1974, exatamente dois meses após termos deixado Alegrete, rumo a Santo Angelo. Repito, emocionante seu relato. Felicidades para você. Temos três filhas, a mais nova nascida quando morávamos em Santo Angelo, a qual nos deu um neto, agora, recentemente, dia 20.10.2010 (olhe bem essa data 2010-2010) Bernardo, o primeiro neto, já que as outras filhas nos deram, cada uma, uma neta. Derli Baltasar Castagna Paim