segunda-feira, 1 de março de 2010

POLUIÇÃO SONORA

                Parece até uma contradição, mas só à primeira vista. Para quem se autodefiniu como "eclética" no post anterior, reclamar da música dos vizinhos parece uma incongruência. Mas não é.
                Deixei claro que gosto de "boa música" e, de preferência, no volume adequado à audição de quem deseja ouvi-la, visto que me refiro à música ouvida em casa e não em baladas.
                Uma vez, há muito tempo, nos meus primeiros anos de piano, dona Cyra Neves, minha professora, disse que eu tinha "ouvido absoluto". Bem mais adiantada, dona Rosalina, professora dos últimos  anos , confirmou a declaração. Eu nem sabia bem o que isso significava, além da facilidade de tirar de ouvido qualquer música que acabasse de ouvir. Tocar "de orelha", como minha saudosa professora recriminava, valeu-me os maiores aplausos, porque bem ao gosto popular.
                 Em contrapartida, meus ouvidos dóem diante de desafinações, música muito alta ou breguices. Este "Rebolation", por exemplo, acaba comigo!
                 Já contei aqui que tinha uma sinfonia de pássaros num terrreno baldio ao lado do meu prédio e que, hoje, tenho a construção de um prédio bem na janela do meu quarto. Às 7h começa a serra elétrica, o radinho dos peões na pior programação e ainda o coral desafinado dos pedreiros. Coisa de deixar qualquer um doido!
                  Final de semana a construção dá uma trégua para os ouvidos, dá até pra abrir as janelas e arejar a casa. Só que - castigo dos deuses - os vizinhos resolvem desenferrujar suas vitrolas com músicas terríveis e num volume de milhares de decibéis. É dor de cotovelo de um lado, música brega de outro, pagodaços, tudo num volume máximo, como a querer nos obrigar a ouvir também.
                  Não sei se sou eu a errada ou se tenho sempre os vizinhos errados. E olha que nunca morei em favela, cortiço, ou periferia! São apartamentos de classe média, bem localizados e com esse povinho miserável a torturar o ouvido da gente.
                  Por que nunca tive um vizinho que gostasse de música clássica, de João Gilberto, de Chico Buarque, dos italianos, num volume adequado, gostoso de ouvir?
                   Embaixo do meu apartamento tem um tal que toca na noite, sei lá em que breguice, e passa os finais de semana ouvindo aquelas músicas de chorar de feias, tentando tirar no violão.
                   Ao lado, uma dona briga com o marido e coloca "anos 60" no volume máximo. Tomar café da manhã, num domingo, ao som de "Banho de Lua" é dose...
                    Um jogador de futebol treme as luminárias com os sons da Bahia o final de semana in-tei-ro!
                     Enfim, joguei pedra na cruz mesmo.
                    Lembro que, em São Paulo, onde meu filho fazia uma especialização e morava num daqueles condomínios com milhares de pequenos apartamentos, para quem ia ficar pouco na cidade e queria morar numa boa localização, um vizinho anônimo tocava saxofone em surdina madrugada adentro. E cada música! Nunca tive esta sorte.
                     Penso que tudo passa pela educação, ou a falta dela. Quem não separa lixo, não segura a porta do prédio para não bater, é claro que não vai baixar o volume para respeitar o gosto musical do vizinho.
                     Amanhã a obra recomeça.
                     Um dia ainda quero morar em Paris!

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