As
redes sociais aproximam as pessoas. Nas redes sociais nos sentimos amados,
acompanhados. Mas nem sempre.
Até
que ponto a solidariedade das redes sociais nos ajuda?
Quando
promovem campanhas de doação de sangue para pacientes hospitalizados, exames
para doação de medula a quem está condenado, ou fundos para a compra de
remédios importados caríssimos certamente prestam um serviço inestimável.
A
dúvida é se realmente as pessoas do outro lado do computador conseguem
realmente sentir piedade ou empatia por quem sofre de verdade. Sim, porque nem
todo mundo é sempre sorridente e feliz como nas fotos que posta nas redes
sociais. Mesmo quem não tem grandes problemas, certamente tem momentos de
solidão e de dor que não compartilha, muitas vezes por desacreditar numa
solidariedade autêntica por parte dos seus amigos virtuais.
Existem
vários grupos de pessoas numa sociedade, alguns tão fechados que se assemelham
a guetos e só interagem entre eles. Há os muito ricos, os famosos, os dessa ou daquela
profissão ou religião, os amantes de arte, os que não vivem sem livros, os
cinéfilos, os contestadores, os politiqueiros, os vencedores, os perdedores, os
fanáticos por futebol, os mulherengos, as homerengas, os piadistas... e os
doentes. Neste grupo estão as pessoas mais carentes, mais sofridas, mais
desesperadas e também as mais reclusas. Talvez por descrerem de uma verdadeira
empatia com seu sofrimento por parte daqueles vencedores afortunados, sempre brilhando
e estampando sorrisos nas redes sociais.
Quem
verdadeiramente se importa com aqueles que sofrem, que sentem medo, que padecem
de dores e diagnósticos nefastos? Quem se condói e se solidariza com quem
perdeu pessoas queridas e não está conseguindo sobreviver à perda? Quem se
preocupa com quem mergulha numa depressão e luta para sair dela, muitas vezes
sem sucesso? Quem pensa em ajudar quem passa por grandes dificuldades
financeiras sem conseguir uma solução em curto prazo? Quem imagina que cuidar
de idosos ou pessoas com Alzheimer seja um paraíso constante? É mais fácil
fechar os olhos, dar as costas do que verdadeiramente se importar.
Daí
surgem os paliativos, as piadas de mau gosto, as receitas compartilhadas e
nunca experimentadas, as preces não rezadas, as tantas curtidas sem ao menos
olhar com atenção para o que está curtindo, os parabéns vazios só porque foi
lembrado pela máquina, os compartilhamentos políticos sem sequer entender o que
está sendo discutido, a inveja do sucesso e da ostentação de A ou B, a
irritação com os comentários desagradáveis, a piedade momentânea com quem
confessa alguma perda, o tempo gasto, o tempo perdido.
Há
que se abrirem os portões dos guetos para que as redes sociais cumpram seu
papel. Do contrário, será apenas um passatempo para quem não tem nada melhor
para fazer. Se a dor do outro não me importa, não me diz respeito, o outro
também não conta para mim. Ao invés de invejar a riqueza e a beleza de alguns,
que tal prestar mais atenção no sofrimento e na carência do outro?
Todos
vão morrer. E acabar do mesmo jeito. A diferença está neste intervalo entre o
nascimento e morte.
Sejamos
a diferença.
Um comentário:
Também certas palavras de cunho popular, mas ainda não dicionarizadas, vivem no gueto das Palavras Omitidas: homerenga é uma dessas palavras.
Quando essas palavras populares são usadas por uma escritora de renome, é dado o primeiro passo delas rumo ao vernáculo e, quiçá, aos clássicos do idioma.
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