Existem coisas na vida que a gente não encontra palavras para descrever, por maior que seja o nosso vocabulário. Dentre elas, o Amor, a Dor, a Saudade e a Fome. Só os amantes conhecem a intensidade do sentimento que os envolve. As dores alheias parecem sempre menores que as nossas. Cada um sabe de quantas ausências é recheada a sua saudade. E quem nunca passou fome terá bastante dificuldade em descrever o que sente um ser humano faminto.
O mundo já está anestesiado diante do conhecimento de povos que padecem com a falta de alimentos desde a sua criação. Alguns lugares da África, do Sudão, da Síria, do Afeganistão, da Ucrânia, do Iêmen, da Somália e de todos os países em guerra convivem com a fome e a desnutrição atingindo adultos e crianças.
Secas, enchentes, terremotos, queimadas, conflitos armados, tudo contribui para a escassez de alimentos e para a expansão do mapa da fome no mundo. Desde 2019 o mundo enfrenta mais um problema de dimensões incalculáveis, que atinge todos os povos e sacrifica os mais vulneráveis e com menos recursos – a pandemia de Covid 19.
Desta vez, um coronavírus colocou o mundo de joelhos e pisoteou sobre os países mais pobres e sobre as populações mais carentes. No Brasil, 23,5% da população começou a fazer parte do mapa da fome. Inclusive os indígenas! Sem vender artesanatos, sem terras demarcadas para plantar, muitas aldeias começam a depender exclusivamente do auxílio do Governo e da Funai, que são quase sempre insuficientes.
A economia despencou, empregos foram perdidos, vidas foram ceifadas e até quem nunca tinha conhecido esse fantasma, sentiu o gosto ocre e amargo da fome roendo seu estômago, de uma geladeira vazia, de pratos vazios e o pior de tudo – do choro de fome dos filhos.
Existe solidariedade, ainda se encontram corações piedosos que se compadecem e tentam minimizar a carência de alimentos nos menos favorecidos, nos desempregados, nos doentes e naqueles mal preparados para o mercado de trabalho. Só que ninguém consegue ajudar por muito tempo, logo estará faltando para si, principalmente porque não são os mais ricos que costumam ajudar. Líderes comunitários, pastorais religiosas e gente de bom coração continuam fazendo um grande esforço para distribuir cestas básicas a quem já tinha pouco e agora não tem nada. O Governo distribuiu milhares de auxílios emergenciais que, infelizmente, tem prazo para terminar e cujo valor foi insuficiente para acompanhar a inflação e o aumento progressivo dos alimentos, das taxas de luz e do preço do botijão de gás.
É certo que nas famílias mais necessitadas o número de filhos costuma ser maior. Isso deixa tudo ainda mais difícil! A questão é que só a educação pode ensinar as famílias a se planejarem para colocar no mundo apenas os filhos que tiverem capacidade de alimentar e educar. E a educação em nosso país continua bastante deficitária, com a pouca valorização dos professores e a falta de investimento nas escolas.
É preciso cuidar da terra, plantar e colher alimentos mais livres de agrotóxicos, preservar os recursos naturais e alimentar seu povo antes das exportações, cujo lucro retorna apenas para o produtor e não enche a panela do povo. Também deve-se evitar desperdícios, lixeiras repletas de comida enquanto outros não têm o que comer.
A fome é causa e consequência da pobreza. Um ser faminto dificilmente conseguirá ser um cidadão. Deve-se alimentar o estômago para depois alimentar a alma e elevar o espírito. Porque, com a barriga vazia, fica difícil até conversar com Deus.
Doe alimentos! Doe esperança! Doe amor!
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