sábado, 18 de setembro de 2021

REDES ANTISSOCIAIS

 

                    Na minha meninice e juventude, os grupos de amigos eram formados pelos colegas da escola, da catequese, da rua, dos esportes. Nós tínhamos telefone em casa porque meu avô era dono de Cartório, mas não podíamos ligar para os amigos, uma vez que quase nenhum deles possuía linha telefônica, raras na cidade naquela época. Nosso contato com os amigos era sempre direto, no máximo um recado dado por outro companheiro de estudos ou de brincadeiras. Claro que havia grupos e nem sempre todos os amigos fossem considerados como os melhores, aqueles em que confiávamos mais, ou que tinham mais afinidades conosco. Grupos menores dentro do grande grupo reuniam os que pensavam mais parecido, gostavam das mesmas coisas, tiravam notas similares. Era assim que funcionava a rede de amizades naquele tempo.

                  Hoje, as pessoas têm muito menos contato, inclusive crianças e jovens, entretanto, suas vidas são completamente expostas nas diversas redes sociais e suas ideias são difundidas, nem sempre assertivamente, sem falar nas calúnias e difamações que alguns se comprazem de praticar, protegidos pela distância e até pelo anonimato.

                        Num tempo em que jornalistas e repórteres são desacreditados, qualquer um que plante uma informação, tirada da sua própria cabeça ou de algum outro inventor, é logo passada (e aceita) como verdade, sem que se exija comprovação, sem que se ouça os envolvidos, sem que se consulte fontes e registros, sem nada. Caiu na rede é peixe!

                    Pessoas que se acovardavam na vida real agora se mostram ferozes, corajosos, arruaceiros, protegidos pela distância, gritando ameaças e revoltas por detrás de um monitor ou de um aparelho celular. Gente que não se atrevia sequer a recitar um poema diante dos colegas agora grita ofensas, propaga manchetes falsas, num disse-me-disse de fins catastróficos, bagunçando ainda mais um meio já contaminado de informações contraditórias. E assim, pessoas que até se consideravam amigas se afastam, gente da própria família se distancia por conta de ideologias frágeis multiplicadas nas redes sociais. Num tempo em que a informação correta é tão necessária, essas redes muitas vezes contribuíram para desinformar e dificultar ainda mais o enfrentamento dessa cruel pandemia.

                      Muito fácil gritar em letras maiúsculas! Não custa nada ofender num comentário escrito. É até divertido espalhar notícias sem a menor comprovação, só para ver quem vai acreditar nelas. Quem perde com isso? Todos.

                     Creio que o objetivo maior das redes sociais é o de aproximar pessoas que a vida afastou. Não tem sentido trocar opiniões com o vizinho do lado, ou com os parentes e amigos que estamos sempre vendo. Para esses, o olho no olho é sempre melhor. Todavia, como ficamos felizes de reencontrar gente querida que não víamos há muito tempo e nem sabíamos por onde andava. Ficamos conhecendo seus descendentes, trocamos recordações, nos reaproximamos. Essa é a melhor finalidade das redes sociais.

                      Infelizmente, por conta das desavenças políticas, a mesma rede que aproximou corre o risco de afastar os amigos, desde que eles não saibam respeitar a opinião alheia e ultrapassem o limite da cordialidade nos comentários.

                     Tenhamos cuidado, portanto, para não transformamos essas redes sociais, que nos trouxeram tantos bons amigos para perto, em redes antissociais!


 

Um comentário:

Maria do Carmo disse...

Texto muito bom! Parabéns e obrigada Maria Luiza😍