quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

TARDE DEMAIS



Aproveita que a vida é breve! A vida é só uma. A única certeza que temos é a morte.
Ouvimos essas recomendações a vida inteira. E as repetimos muitas vezes também. Mas, como é que se aproveita a vida?! Com lazer o tempo todo? Acontece que a maioria das pessoas precisa trabalhar para sobreviver. Trabalhando no que gosta? Certamente ajuda, no entanto, mesmo o melhor trabalho envolve rotina, horários, restrições.
Com frequência, usamos esse “aproveitar” para orgias, festas, transgressões. Inclusive as crianças habituam-se a verdadeiras maratonas de folguedos, incentivadas pela recomendação de aproveitar a infância, porque ela passa rápido e depois vem a parte chata da vida. Os velhos devem aproveitar mais ainda, porque não lhes resta muito tempo, mesmo que não tenham mais condições de realizar as tarefas de que gostavam.
Enfim, essa questão de aproveitar, viver intensamente, só fazer o que gosta é mais uma das tantas utopias que criamos para amenizar a caminhada irrefreável que fazemos para a morte desde o nascimento.
Existem pessoas que não pensam a vida, não refletem, vivem como se fossem descerebradas, apenas um corpo para curtir e enfeitar. Talvez sejam mais felizes, embora a felicidade física pareça bem pequena diante da enormidade dos nossos pensamentos.
Uma certeza nos abala mais profundamente. A constatação de que para algumas coisas é realmente “tarde demais”.
Tarde demais para mudar de profissão, tarde demais para fazer aquela longa viagem cheia de aventuras, tarde demais para reencontrar um grande amor, tarde demais para montar um negócio, tarde demais para aprender novas habilidades, para escolher outros caminhos, para desfazer o malfeito, para mudar as escolhas, para voltar atrás, para parar o relógio, para prestar mais atenção, para saborear melhor os bons momentos, para evitar os caminhos tortuosos que levam ao nada.
Mesmo com toda a autoajuda das redes sociais, ainda que se repita os mantras e as rezas diárias, depois que subimos a escada até o final, paramos um pouco lá em cima e fazemos o balanço de tudo antes de iniciar a descida. Um tropeço e rolamos escada abaixo para o precipício que espera por todos.
Pena que seja tarde demais para morar no campo, para plantar e colher, para acordar com o sol e o mugido do gado, para sentir a vida, ao invés de pensar nela. Pena mesmo...





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