terça-feira, 15 de agosto de 2017

ROTINA NEM SEMPRE DOCE



                         “Todo dia ela faz tudo sempre igual...”, dizia a letra de uma música famosa. E assim acontece com a maioria das pessoas, em todas as casas, todos os dias. Pior é que, quando essa rotina é quebrada, na mais das vezes é por coisas ruins e não por surpresas boas.
                         Costumamos acordar na mesma hora e fazer tudo igual, dia após dia, a não ser quando temos um compromisso chato, uma consulta, um exame, uma conta para pagar. Os que ainda estão no mercado de trabalho, então, fazem exatamente a mesma coisa, cinco dias por semana, além de gastarem o final de semana quase sempre do mesmo jeito. Isso quando não usufruem os dias de descanso apenas presos às redes sociais. As crianças diante da TV, ou nos jogos eletrônicos e o sol à toa lá fora, esperando uma bola, uma bicicleta, um passeio familiar.
                        Não sei se eu conseguiria viver um dia de cada vez, um dia diferente do outro, porque fui condicionada a manter os horários e os comportamentos adequados a cada situação. Quando se tem dois empregos e três filhos para fazer estudar e aprender mil coisas da vida, não dá para ousar muito, é preciso ter organização, horários, rotina de estudo, de sono, etc.
                       Seria bom se cada dia reservasse uma surpresa boa, uma descoberta, uma conquista, um momento de plenitude. Se, ao deitar, tivéssemos a certeza de que o dia valeu a pena, que a vida é maravilhosa e que o dia seguinte será ainda melhor!
                       Vejo casais jovens suportando a vida, empurrando a dura rotina para frente, sempre prestes a desabar, a desistir, sem entusiasmo, sem energia, sem expectativas, apenas cumprindo o script e se esforçando para chegar ao fim do dia mais ou menos inteiros, para tomar um banho triste e cair na cama exaustos, já sob a ameaça cruel do despertador no dia seguinte. Para esses, a vida pode parecer longa e sem graça demais, quase totalmente desperdiçada. Talvez por isso tantos se joguem nas baladas, nos esportes radicais, fazendo loucuras que sacudam o marasmo da semana e muitas vezes colocando em risco a própria vida.
                        É triste ver que até a comida dos finais de semana costuma ser a mesma, depois o futebol no domingo inteiro, ou serviços domésticos, ou celulares, ou passeios sempre iguais nos shoppings, pouco restando para uma quebra de rotina salutar, para um encontro verdadeiro da família, com tempo para conversar prestando atenção no outro, se exercitar, admirar a natureza que está sempre ali e mal reparam nela, enfim, dois dias por semana para serem família!
                        Quem aprendeu a gostar de ler, quem conhece e sente o verdadeiro prazer da leitura, consegue burlar qualquer rotina através dos livros, que nos carregam para longe e para perto, às vezes para dentro de nós mesmos, enchendo de significado cada momento em que estamos lendo e viajando naquelas páginas.
                        Se não temos a oportunidade de criar um dia diferente do outro, se não temos como driblar os compromissos e horários do dia a dia, pelo menos, que tentemos saborear cada pequena coisa, cada pequeno gesto de forma diferente. Uns instantes na janela respirando ar puro, olhando para as pessoas, uma atenção mais demorada às conversas das crianças, que parecem sempre as mesmas mas tem enormes diferenças, pois elas estão descobrindo o mundo com a nossa mediação, um tempero mais caprichado no lanche e na comida de cada dia, um sorriso para o vizinho com o qual cruzamos todos os dias e mal o enxergamos, enfim, há com extrair, mesmo da rotina mais pesada, um pouco de satisfação e significado.
                       Tente pra ver!





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