terça-feira, 15 de agosto de 2017

O TEMPORA O MORES!




                            “Oh tempos! Oh costumes!” Certamente Cícero, famoso orador e político romano, recitaria novamente suas Catilinas se vivesse agora e tivesse diante de si a dura realidade que enfrentamos, pois ele a usou para expressar espanto e indignação por uma época decadente e uma situação escandalosa. Em alto e bom latim, Cícero denunciava a corrupção, a deslealdade e a ameaça à sua nação.

                             Um cronista escreve sobre os fatos da atualidade e, mesmo não querendo conspurcar outras histórias, preciso registrar as marcas de um tempo deste início do século 21 em que o mundo está de cabeça para baixo e nem os maiores estrategistas estão dando conta de refrear o descontrole e a desumanidade que assola a Terra.

                            A natureza se revolta, cansada de tanto desrespeito e poluição. Rios secam, mares sobem sobre áreas que lhes foram roubadas, minas desabam, morros se desmancham, raios furiosos cortam os céus reclamando por mais consciência dessa humanidade que só fabrica lixo e mais lixo e envenena a terra, a água e os alimentos.

                           As doenças superam os avanços da medicina e até um simples mosquito consegue aleijar crianças e incapacitar adultos. Os hormônios e pesticidas nas hortas, lavouras e rebanhos, a poluição do ar saturado de combustíveis dos automóveis e fábricas faz o câncer explodir de forma incontrolável, ceifando vidas, submetendo a humanidade a tratamentos caros e dolorosos, nem sempre eficazes.

                           A vida humana não vale mais nada nas mãos dos contraventores, dos drogados, dos assaltantes. Quase nenhum tem sequer um livro em casa, mas certamente todos têm um revólver e uma faca afiada, pronta a destruir os sonhos de uma pessoa, de uma família, de uma sociedade. As pessoas de bem vivem acuadas, com medo, presas em casas gradeadas, temerosas de sair, proibidas de se divertir. As cadeias superlotadas só esvaziam os cofres públicos e não reeducam ninguém, funcionando como escolas do crime.

                            A política finalmente mostrou sua cara e o povo assistiu, estarrecido, o jogo de interesses, o despreparo, a corrupção, a ineficácia total daqueles que se elegeram com seu voto e pouco fizeram para melhorar a sua vida.

                            O Oriente desaba sob falsos líderes e os fanáticos se espalham pelo mundo disseminando o terror, vitimando inocentes, sob falsas bandeiras e torpes motivos, com o afã de espalhar o medo e a destruição em nome de interpretações errôneas de uma fé antiga. Bandos de inocentes se lançam ao mar em embarcações precárias, no afã de fugir da maldade e da intolerância. E assim vagueiam por países assustados, que hesitam em recebê-los, temendo seus compatriotas. É inenarrável o sofrimento desse povo em fuga, que não poupa nem as crianças.

                            Um Papa argentino revoluciona a Igreja Católica, alargando horizontes, perdoando pecados, espalhando tolerância e abrigando muito mais fiéis sob o manto aconchegante do cristianismo nos moldes atuais. É no cenário de injustiça e desrespeito que a igreja deve exercer influência e ele deixou claro que a comunidade cristã não pode se moldar pelos padrões secularizados, vivendo enclausurada e alheia aos problemas do mundo.

                             Professores são espancados por alunos cada vez mais desrespeitosos e violentos, inclusive com os colegas. Os pais perderam a autoridade, a TV se encarrega de direcionar a educação das crianças, presas em casa por segurança e expostas à maior violência através dos programas de televisão e sites da internet. As redes sociais mostram seu lado mais funesto, recrutando terroristas, divulgando pornografia, difamando pessoas.

                             Começamos com Cícero e podemos terminar com Rui Barbosa, que viveu numa época bem menos violenta que agora, mas já com graves problemas, que o levaram a dizer:

                               De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.








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