quarta-feira, 2 de novembro de 2016

DIA DOS MORTOS



                Acho inapropriada a expressão “dia de finados”, uma vez que, quem morreu, já nem sabe se é dia ou noite, muito menos de que mês ou ano, pelo menos na visão católica da morte.
Enfim, como tantas outras datas, esta deve ter sido instituída com o intuito de relembrar tantos familiares desligados que aquele (ou aquela) que morreu já representou muito para eles e não deveria ser esquecido.
Numa cidade pequena, onde todos se conhecem, o Cemitério vira ponto de encontro e algumas perguntas beiram o escatológico:
- Oi Fulano, tudo bem? Quem está aí? (apontando para um mausoléu)
Ou então:
- Fulana, sabes onde está o Sr. Fulano? E o fulaninho?
Os mais bem informados viram guias turísticos:
- Sabes quem está lá? Viste o fulano, foi colocado no jazigo da família.
E por aí vai.
Religiões distintas distribuem folhetos, pregam, consolam. Se bem que poucos pareçam inconsoláveis, bem poucos...
O preço inflacionado das flores não é mais novidade; o novo é ver as flores artificiais tomando conta do mercado, em razão da maior durabilidade.
Há túmulos ricos, médios, pobres e miseráveis, como no mundo dos vivos.
Há túmulos limpos, brilhantes, floridos e outros sujos, abandonados, esquecidos. Neste caso, a situação independe do poder aquisitivo das famílias. Jazigos suntuosos não recebem um pano ou uma flor há tempos; enquanto, num cantinho de parede, tem gente rezando, acendendo velas, colocando flores em vasinhos improvisados. É... coração não depende de saldo bancário.
Gente nova, bonita, com lindas roupas, enterrada em túmulos esquecidos pelo tempo. E outros, com fotos de velhinhos enrugados, bem preservados pelos sobreviventes.
Dia de Finados eu costumava passear pelas alamedas do Cemitério com meu pai. Ele revia os amigos (já eram tantos por lá), contava-me as histórias das famílias, as pestes, as tragédias, distribuindo flores entre seus conhecidos.
Hoje sou eu que vou visitá-lo. E me custa muito acreditar que ele passou para o lado de lá. Que pena, Pai, que já não estás por aqui... arrumei bem tua nova casa, entretanto, definitivamente, não preciso de um dia preestabelecido para me lembrar de ti.




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