domingo, 9 de outubro de 2016

OFICINA DE BRINQUEDOS



                         Vou ser saudosista sim, as seis décadas que vivi me autorizam a isso.
                         As conquistas tecnológicas, as facilidades domésticas, o leque infindável de opções de lazer, tudo isso já foi cantado em prosa e verso pelos meios de comunicação. Há, todavia, um lado importante que está sendo negligenciado, que são os valores eternos, como respeito, afeto, solidariedade.
                         A Semana da Criança é uma oportunidade magistral de olharmos com mais atenção para as relações que nossas crianças estão construindo com o mundo e entre elas mesmas. Por exemplo, como são tratados os brinquedos adquiridos, cobrados, exigidos, depois que saem da loja e habitam nossas casas?
                        Diz um jargão popular que “criança precisa de amor e brinquedo”. E não está muito errado não. É claro que precisa de muitas outras coisas, mas amor e brinquedo não devem faltar. Os brinquedos são escolhidos dentre os exaustivamente divulgados pela mídia e logo são esquecidos e jogados numa pilha de outros com a mesma história. Por que as crianças de hoje não se afeiçoam mais aos brinquedos, por que as meninas não têm mais uma boneca inseparável que a acompanhará até a adolescência e às vezes até além? Que relação efêmera é essa da criança com o brinquedo que desejou tanto e logo se enfastia dele? Não será uma cópia da transitoriedade do afeto que a criança nutre por quase tudo e todos hoje em dia? Não serão os familiares e os amigos descartáveis também para essa criança?
                        As meninas hoje não possuem “uma” boneca, mas a coleção inteira delas. Os meninos adquirem todos os super heróis, seus jogos, acessórios e tudo mais, sem sequer saber o que aqueles personagens – estrangeiros sempre – fizeram pela humanidade. E nenhum desses brinquedos consegue cativar verdadeiramente essa criança.
                        Tive uma boneca que me acompanhou a vida toda, inclusive nas viagens, e depois veio para a minha casa de recém casada e foi apresentada aos meus filhos.
                        Certa vez, quando eu tinha uns nove anos, tomando café às pressas num hotel de Iraí (estância termal do RS), saímos correndo para a rodoviária e esquecemos a Margareth (era esse o nome dela) no refeitório do hotel. Dei-me conta já no ônibus e comuniquei ao meu pai, de olhos esbugalhados pelo terror de perder minha companheirinha. Pois meu pai fez o ônibus voltar os quilômetros que andara, como se tivesse deixado uma netinha para trás. Porque sabia o que ela significava para mim e que não haveria substituição possível! Era uma boneca comum, rechonchuda, de olhos azuis, mas morava na minha casa, no meu quarto, na minha vida há muito tempo. Era minha confidente, irmã e filha e eu não a trocaria por nenhuma outra.
                          Não consigo imaginar, hoje em dia, uma relação assim das crianças com seus brinquedos. Quando estragam, vão logo para o lixo, se perdem qualquer pecinha já estão descartados, enfim, o brinquedo não passa de um entretenimento temporário e fugaz.
                           Na minha meninice ainda havia uma Oficina de Brinquedos na cidade; no tempo da minha mãe elas eram comuns. Para lá eram levadas as bonecas mimosas, os carrinhos de estimação, os trenzinhos que enguiçavam e as crianças esperavam, ansiosas, por seu brinquedo de volta, em bom estado, “novinho” outra vez.
                          Será que hoje em dia teria sucesso uma oficina assim?!
                          Dê uma olhada nos brinquedos do seu filho, seu neto, seu afilhado e na forma como ele interage com eles. E pense bem no que vai lhe dar de presente no Dia da Criança!




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