Prefácio:
Em seu primeiro livro de crônicas (Gazeteando), em que reuniu seus
textos publicados no jornal Gazeta de Alegrete, Maria Luiza Vargas Ramos
mostrou, com habilidade e arte, que a crônica é um gênero que pode ser
realmente cativante. Com seus escritos, ela dá boas lições de redação de
crônica, pois eles têm os ingredientes básicos desse gênero literário: temas
atraentes, ritmo, coesão, objetividade e economia.
Seus textos sobre lembranças de Alegrete,
sua terra natal, são um deleite para o leitor. Recriadas pela memória
fotográfica e afetiva da escritora, Alegrete adquire ares de uma Pasárgada
gaúcha. E ela conta, com maestria e orgulho telúrico, sobre o universo
inesquecível e brilho único que a sua patriazinha tem.
Com frequência, seus mergulhos nos tempos
de meninice e adolescência fazem com que todos - especialmente nós, seus
conterrâneos- voltem também a abrir seus baús de lembranças infanto-juvenis.
A chegada da primavera, doces da infância,
a cadelinha Pitty, longevidade, sinceridade virtual, o pior beijo, pensamentos
enquanto cozinha, lembranças de um tempo distante. Ao escrever, ela nos convida
a fazer parte de sua vida. Abre-se em livro para cada um de nós. Nada,
absolutamente nada, escapa aos atentos olhos de Maria Luiza. Tudo para ela
merece consideração. É tão intensa, que faz das pequenas coisas da vida um
espetáculo sensível que ela divide com seus leitores.
Maria Luiza escreve de um modo gostoso,
como se estivesse apenas a conversar com os leitores na sua sala de visitas,
num barzinho à beira da praia ou num
jantar com amigos. A impressão que tenho é que ela pensa alto, mas usa a
palavra escrita e não a falada para isso. E como pensa bem!
O conteúdo de suas crônicas é tão recheado
de opiniões interessantes e o seu senso de observação sobre todas as coisas é
tão aguçado, que ela cativa leitores de qualquer idade. Meu pai, à época com 92
anos, disse-me que havia gostado muito "da fluência com as palavras que
essa moça tem".
Comparo a leitura dos textos de Maria
Luiza àqueles pequenos prazeres, como comer pipoca em tarde chuvosa, ver um bom
filme deitada no sofá de casa, enrolada num cobertor, balançar-se numa rede e
ficar olhando o céu, mergulhar num mar de águas quentes, coisas assim...
Simples, mas intensamente prazerosas.
Não bastasse tudo isso, Maria Luiza tem
uma escrita gramaticalmente impecável, ainda que o estilo de sua linguagem seja
simples, quase coloquial. De tal modo e tanto que, além de nos fazer refletir,
rememorar e rir com seus textos (suas tiradas de humor são ótimas!), ela ainda nos
mostra o que é um bom Português. Algo raro de se ver hoje em dia, em tempos de internetês.
Uma marca registrada de Maria Luiza é ter boas ideias, opiniões adequadas, linguagem sem rebuscamento e um bom vernáculo.
Todos os ingredientes para um cronista ter sucesso. E ela escreve como quem
traz cada cena pulsante no coração. Há muita vida dentro dela. Preciso dizer
mais?
Penso que só me resta desejar ao leitor bom
proveito na leitura das crônicas desse novo livro de Maria Luiza Vargas Ramos,
uma incansável observadora da vida.
Marília
Cechella
Médica e professora
aposentada do curso de Medicina da UFSM.
Santa Maria/RS
Um comentário:
Doravante passarei a dizer:
--Gostoso como um prefácio da Marília Cechella
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