quinta-feira, 14 de julho de 2016

Prefácio do SIMPLESMENTE MARIA (2012).



Prefácio:

     Em seu primeiro livro de crônicas (Gazeteando), em que reuniu seus textos publicados no jornal Gazeta de Alegrete, Maria Luiza Vargas Ramos mostrou, com habilidade e arte, que a crônica é um gênero que pode ser realmente cativante. Com seus escritos, ela dá boas lições de redação de crônica, pois eles têm os ingredientes básicos desse gênero literário: temas atraentes, ritmo, coesão, objetividade e economia. 
     Seus textos sobre lembranças de Alegrete, sua terra natal, são um deleite para o leitor. Recriadas pela memória fotográfica e afetiva da escritora, Alegrete adquire ares de uma Pasárgada gaúcha. E ela conta, com maestria e orgulho telúrico, sobre o universo inesquecível e brilho único que a sua patriazinha tem. 
     Com frequência, seus mergulhos nos tempos de meninice e adolescência fazem com que todos - especialmente nós, seus conterrâneos- voltem também a abrir seus baús de lembranças infanto-juvenis.
    A chegada da primavera, doces da infância, a cadelinha Pitty, longevidade, sinceridade virtual, o pior beijo, pensamentos enquanto cozinha, lembranças de um tempo distante. Ao escrever, ela nos convida a fazer parte de sua vida. Abre-se em livro para cada um de nós. Nada, absolutamente nada, escapa aos atentos olhos de Maria Luiza. Tudo para ela merece consideração. É tão intensa, que faz das pequenas coisas da vida um espetáculo sensível que ela divide com seus leitores.
     Maria Luiza escreve de um modo gostoso, como se estivesse apenas a conversar com os leitores na sua sala de visitas, num barzinho à beira da praia ou  num jantar com amigos. A impressão que tenho é que ela pensa alto, mas usa a palavra escrita e não a falada para isso. E como pensa bem!
     O conteúdo de suas crônicas é tão recheado de opiniões interessantes e o seu senso de observação sobre todas as coisas é tão aguçado, que ela cativa leitores de qualquer idade. Meu pai, à época com 92 anos, disse-me que havia gostado muito "da fluência com as palavras que essa moça tem".
     Comparo a leitura dos textos de Maria Luiza àqueles pequenos prazeres, como comer pipoca em tarde chuvosa, ver um bom filme deitada no sofá de casa, enrolada num cobertor, balançar-se numa rede e ficar olhando o céu, mergulhar num mar de águas quentes, coisas assim... Simples, mas intensamente prazerosas.
      Não bastasse tudo isso, Maria Luiza tem uma escrita gramaticalmente impecável, ainda que o estilo de sua linguagem seja simples, quase coloquial. De tal modo e tanto que, além de nos fazer refletir, rememorar e rir com seus textos (suas tiradas de humor são ótimas!), ela ainda nos mostra o que é um bom Português. Algo raro de se ver hoje em dia, em tempos de internetês.
     Uma marca registrada de Maria Luiza é ter boas ideias, opiniões adequadas, linguagem sem rebuscamento e um bom vernáculo. Todos os ingredientes para um cronista ter sucesso. E ela escreve como quem traz cada cena pulsante no coração. Há muita vida dentro dela. Preciso dizer mais? 
     Penso que só me resta desejar ao leitor bom proveito na leitura das crônicas desse novo livro de Maria Luiza Vargas Ramos, uma incansável observadora da vida.


Marília Cechella
Médica e professora aposentada do curso de Medicina da UFSM.
Santa Maria/RS




Um comentário:

Francisco Carlos D'Andrea (francari) disse...

Doravante passarei a dizer:
--Gostoso como um prefácio da Marília Cechella