Como de tudo. Ou quase. Fui treinada em casa para
experimentar todos os alimentos e assim fiz com meus filhos e com a neta que
almoça comigo. Creio que minha única restrição alimentar é carne crua e carne
de caça. Picanhas sangrentas também não me agradam muito, prefiro sempre ao
ponto. Aprendi a comer até sushi e sashimi para acompanhar a nova geração. Acho
muito desagradável ver pessoas catando temperos no prato e enchendo as bordas
disso e daquilo que não comem. Mas ,enfim, o que importa mesmo é que a comida
seja preparada com ingredientes frescos e o máximo de higiene. O resto depende
do talento do cozinheiro.
Nunca provei galinha ao molho pardo. Dizem que é um prato
saborosíssimo. Explico. Na minha casa tinha muitas galinhas e sempre pintinhos
atrás delas. Eu costumava ter uma ou outra de estimação para quem dava nomes e
cismava que elas me reconheciam e atendiam ao meu chamado (embora todas
viessem). Aos sábados, a cozinheira escolhia uma bem gordinha, corria atrás
dela, cercava, pegava, torcia o pescoço e deixava pulando sob um balde até
parar. Depois esquentava uma água bem quente, depenava e queimava com álcool e
fogo as penugens restantes. Daí abria, cuidando um tal de fel, achava ovinhos
em profusão que iriam para a sopa e deixava temperada para fazer no domingo.Naquele
tempo as empregadas não tinham folga em dia nenhum. Iam em casa à tarde e
voltavam para preparar o jantar no fogão à lenha. Curiosamente, eram bem mais
eficientes que as de hoje, com tantos direitos e regalias.
Pois bem, em algumas ocasiões a matança das penosas se dava de
forma bem mais chocante. Era quando uma faca afiada entrava em seu pescoço e o
sangue ficava pingando numa caneca com cuidados extras para não talhar. Eu costumava
ficar xingando a cozinheira nessas horas, mas ela ria e nem me dava bola, ainda
ameaçava que a próxima seria a minha, aquela eu chamava de Flor. Por conta de
acompanhar o processo, sempre me recusei a comer galinha ao molho pardo e, por
uma concessão incomum na família, eles assavam um pedaço à parte para mim
quando o prato era aquele.
Certa vez, minha avó ia receber um convidado muito
importante para o almoço e mandou fazer a famosa galinha ao molho pardo que
todos adoravam. Todos menos eu. A equipe da cozinha, contratada para a ocasião,
assou uma coxa e sobrecoxa para mim que daria para alimentar um dragão pelo tamanho
e a ordem era não deixar resto no prato. Sofri, suei, mas consegui comer tudo,
até que tive uma quase congestão, uma parada estomacal e o convidado ilustre
acabou caminhando comigo no pátio até descer aquela refeição gigantesca. Acho
que fiz um papelão e estraguei toda a finura do almoço, tão bem preparado pela minha
avó.
Por essas e outras continuo sem provar esse prato famoso e
tão bem recomendado pelos gourmets. Ontem, num programa de culinária da Austrália,
vi a preparação de um crocodilo ao molho pardo... assustador! Acho que vou
continuar sem comer. Aquele molho parecendo chocolate deve ter gosto de
sangue... Ou não?
5 comentários:
Eu amo galinha a molho pardo, em Ouro Preto comi uma maravilhosa no Hotel em que ficamos hospedados, mas comi em Portugal arroz com enguia que também leva sangue e confesso que fiquei meio embrulhada, até por que o sabor da carne era muito forte, mas a galinha é maravilhosa, fui criada comendo muita galinha a milho pardo, pois minha avó tinha um abatedouro e era o prato preferido dela aos domingos, preparado pela Nora que era minha mãe, esse prato me traz boas lembranças.
Na minha casa era prato fino. Só eu é que não comia. Dizem que é saboroso.
Boa noite, queria maria Luisa!
Era eu que matava as penosas quando adolescente... que coisa horrenda! Era obrigada pois minha mãe não fazia e tinha que depenar com água escapelando e ainda queimar penugem no fogo... cada barbaridade que nem acredito!
Bjm muito fraterno
Adorei o texto e confesso que também não aprecio o prato.
Não sou fã de galinha. Gosto de carne de jacaré, embora tenha comido poucas vezes.
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