terça-feira, 7 de junho de 2016

CORDÃO GROSSO



                                Alguns bebês se ligam às mães no útero por um cordão umbilical mais grosso que a maioria. Nesses, o umbigo demora um pouco mais para secar e cair. Isso não tem a menor relevância na relação que essas crianças terão com suas mães para o resto da vida. Esses laços vão depender de muitos outros fatores, mais emocionais do que físicos.
                              Agora, se usarmos essa ligação primeira como referência para a proximidade de mãe e filho ao longo da vida, podemos dizer que alguns cordões são bem mais grossos e perenes do que outros.
                              Quando a mãe não consegue ver o filho como um ser individual, autônomo, dono da sua própria vida, responsável por suas escolhas e senhor das suas decisões, metaforicamente estamos estabelecendo um grosso cordão umbilical, que não foi cortado completamente e não separou a vida da mãe da vida do filho.
                            Curiosamente, as mesmas mães que reclamam de falta de autonomia em relação aos seus pais, que exigem o direito de errar sozinhas, se recusam a soltar o filho debaixo das suas asas, impedindo-o de voar.
                           Os filhos crescem, começam a pratear os cabelos e as mães ainda se preocupam com o agasalho nos dias frios (a velha história do “leva um casaquinho”), com a alimentação deficitária dos dias atuais, com a maneira como são tratados pelos companheiros e companheiras, com as horas de sono, com a segurança, com a prudência no trânsito e até com chuvas e ventos fortes. Na verdade, ela só descansa quando sabe que o filho está seguro, em casa, bem agasalhado, bem alimentado e muito bem tratado.
                            Mães “normais” ficam felizes com o sucesso dos filhos, com as aventuras que ele ousa fazer, com as viagens inesquecíveis, com tudo aquilo que abre um sorriso de olhos e boca no seu querubim. No entanto, haja reza para tudo correr bem e para ele voltar são e salvo para dentro do seu abraço!
                           As noras e os genros seriam bem mais felizes se entendessem melhor essa ligação. Se se colocassem no lugar dos filhos e também das mães. Os pais são muito parecidos, os bons pais só não tiveram o cordão umbilical, mas possuem um cordão às vezes mais forte com os rebentos, forjado no colo, nas brincadeiras, nos chamegos, na segurança que oferecem.
                           Tudo que é demais enjoa e é prejudicial. O amor não pode ser castrador, nem sufocante. Deve ser assim como asas invisíveis, que protegem, acompanham, ensinam a voar.
                          Quando o cordão é cortado logo após o nascimento, o filho já precisa aprender a usar seus pulmões e a se alimentar com a boca. Se o cordão imaginário da superproteção não for cortado, o filho não aprende a andar com as próprias pernas e se torna para sempre dependente e fraco.
                         Amor nunca é demais. Cobrança, superproteção e controle podem ser sim.
                         Hoje está muito frio. Será que meus meninos foram para o trabalho bem agasalhados?




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