quinta-feira, 2 de junho de 2016

A ARTE DO FLERTE



                          Você sabe flertar?
                          Bom, se tem menos de cinquenta anos talvez nem saiba o que é isso. Mas certamente já praticou, ainda que com nomenclatura diferente. Paquera, azaração, flerte, enfim, tudo isso denomina aquela troca intensa de olhares que constitui a primeira aproximação das pessoas.
                          Eu era boa nisso. Todo mundo da minha geração era. Ficávamos muito tempo mergulhados fixamente nos olhos da pessoa que nos interessava e deixávamos que os olhos falassem. Nossos olhares atravessavam um salão de baile e se fixavam em outro par de olhos que correspondiam completamente. Até que o eleito se levantasse e viesse até a nossa mesa nos convidar para dançar.
                          Nas ruas, na volta da escola, as amigas nos cutucavam anunciando quando nosso flerte se aproximava, para que pudéssemos preparar o olhar e mergulhar nos olhos dele durante sua passagem. Se nos interessasse muito, dávamos aquela viradinha básica para ver se ele também tinha virado. Se interessasse pouco, apenas as amigas viravam e nos contavam se ele tinha virado também.
                          O flerte era a antessala do pegar na mão, que antecedia o beijo e parava por aí. Geralmente tínhamos vários flertes e os namorados também flertavam com outros e outras, para irritação profunda do parceiro e causa de inúmeras brigas entre os casais.
Mesmo com tantas mudanças de costumes, com tanta liberação sexual, acredito que as pessoas ainda flertem, obviamente sem usar essa nomenclatura. Os mais tímidos só olham de longe e evitam a troca de olhares. Olham muito antes e depois da pessoa passar, mas não se atrevem a fazer o “olho com olho” quando a pessoa se aproxima. Não sabem o quanto estão perdendo!
                         Você lembra dos seus flertes? Lembra das sensações que a intensidade daquele olhar lhe causava? Éramos capazes de caminhar uma quadra inteira nos olhando e, quando cruzávamos com a pessoa, um arrepio intenso percorria o corpo, um suor frio, borboletas no estômago e os olhos mergulhados naquele mar preto, azul, verde ou castanho, que nos tirava os pés do chão e nos fazia levitar.
                        Hoje, com essa pegação toda, não sei se nossos jovens conseguem sentir tanta intensidade quando nós sentíamos com o simples ato de olhar, de encarar outros olhos, de eternizar um olhar e nos transportarmos nele para junto da outra pessoa.
                        Era muito bom flertar! Ah como era!




Um comentário:

Roselia Bezerra disse...

Boa noite, querida Maria!
Éramos flertadas também, rs...
Bjm muito fraterno