Não é o dia da semana que conta, muito embora as
segundas-feiras sejam acusadas de todo tipo de pessimismo ou depressão. Para
quem já se aposentou do trabalho, o início de mais uma semana difere pouco dos
demais dias. Talvez a véspera, os programas de TV, o que se leu nos jornais, o
capítulo do livro, o que o padre falou no sermão, os sonhos da noite, o
encontro matinal com o espelho usando óculos, tudo contribui, enfim, para que,
sem aviso prévio, baixe uma nostalgia crescente, avassaladora. E ficamos tentando
sacudir a poeira dos maus pensamentos da mesma maneira que os animais fazem
para tirar a água do corpo.
Dá vontade de gritar para todos os jovens de pele macia,
cabelos sedosos, carnes firmes para que se valorizem, aproveitem cada segundo
dessa plenitude ao invés de viverem se destruindo, estorricando ao sol, bebendo
até lesar o fígado, isso quando não se metem em vícios ainda piores e mais
destrutivos.
Houve um tempo em que as agruras da vida consistiam em ter
muita matéria para estudar, trabalhos escolares para fazer, pesquisas imensas
para copiar. Uma época em que tragédia era ter que apresentar em casa uma nota
baixa, ou uma chegada tardia na escola.
Depois, difícil era passar algumas noites em claro com um
bebê fazendo manha, ou apartar briga dos filhos pequenos, ou ainda preparar
muitas mamadeiras e papinhas.
Mais tarde, a espera dos filhos adolescentes depois das
festas começou a demonstrar que existem coisas muito mais sérias e piores na
vida, como a ansiedade até encontrar o nome deles na lista dos aprovados no
vestibular.
De uma hora para outra nos sentimos no auge, atingimos a
plenitude física e emocional e a vida faz todo o sentido, com o coroamento de
nossas batalhas pessoais e profissionais. Estufamos o peito, alargamos o olhar
e nosso sorriso é de triunfo. Permanecemos assim por algum tempo, usufruindo da
farta colheita de tudo o que semeamos até então. Acariciamos a prole e nos
reconhecemos em cada novo ser que adentra ao nosso clã familiar.
No momento seguinte, a vida se encarrega de nos apontar a
escada para a descida. Relutamos, há quem tente driblar o inexorável com mil e
uma artimanhas ineficazes; no entanto, todos descerão por ela, ou sucumbirão
entre os degraus.
As marcas do tempo ficam tatuadas no rosto, no corpo, nos
cabelos, inclusive no coração, bombardeado pelas emoções da existência.
Há que se ter dignidade para representar o último ato. Os
arrependimentos, maiores ou menores, nos acompanharão, mas a vida não dá outra
chance. Foi assim porque tinha que ser, ou porque nós mesmos escolhemos esse ou
aquele caminho.
Enquanto há vida há esperança e o sol continua nascendo para
todos. Ocupando o lugar que nos cabe, na etapa certa da caminhada, as
frustrações serão menores e as comparações menos cruéis.
Se recordar também é viver, basta fechar os olhos e deixar
que a memória nos transporte exatamente para aquele ponto em que ainda tínhamos
um mundo para desbravar, espalhávamos pujança pelas ruas da cidade e nem
sonhávamos que, um dia, iríamos sentir saudades e querer eternizar aqueles
momentos.
E assim eu os deixo, prontos para refletir e relembrar.
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