Nem só de avenidas e
praças é feito o caminho da gente.
Tampouco apenas de linhas retas, ou vias de mão única.
As estradas que nos conduzem aos sonhos, às metas ou ao que quer que queiramos
atingir, muitas vezes são tortuosas, íngremes, recheadas de obstáculos. Se
formos espertos, desviamos deles; caso contrário, vamos acumulando cicatrizes
das quedas e arranhões.
As
pessoas muito ocupadas - e que quase sempre buscam essa super ocupação como
fuga inconsciente de si mesmas - quase não param para pensar na vida e nas
atitudes tomadas, nas escolhas feitas. Não sofrem muito, passam pela vida
anestesiadas, com prazeres efêmeros e sempre adiando uma tomada de posição mais
radical em relação a tudo.
Por
outro lado, há os que não vivem, apenas pensam seu viver. E vivem cobrando, de
si e dos outros, por suas carências e latências não resolvidas. Algozes
eternos, não se permitem saborear um momento se não estiver devidamente
fundamentado e em acordo com sua forma de encarar a vida. Sofrem demais.
Quase
aos empurrões, vamos galgando postos, encurtando estradas, embrenhando-nos por
servidões, procurando atalhos, nos perdendo nas veredas. Um dia paramos,
seja pelo motivo que for, e aí começa a rodar o vídeo tape da nossa trajetória
por aqui. Os sustos são inevitáveis.
Como
conseguimos viver longe dos seres que mais amamos, adiando visitas, aguardando
momentos propícios, como se nossa vida - e a deles - fosse eterna?! Como
aceitamos tantas desculpas esfarrapadas para esse distanciamento, muitas delas
forjadas por nós mesmos?
Em nome de quê deixamos de acompanhar a velhice dos pais e dos avós, as
conquistas dos filhos e o crescimento dos netos?
Por que escolhemos a saudade
como palavra principal do nosso dicionário?
Você
já reparou bem em suas mãos no Inverno? Mesmo de unhas feitas e bem hidratadas
elas são uma ampulheta implacável do nosso tempo por aqui. Ou você é do tipo
que consegue mentir até para si próprio (a)?
Por que esquecemos tão rápido Luciano Pavarotti, por exemplo, e suportamos
estoicamente tanto cantor ruim em nossos ouvidos, em nome de uma modernidade
falsa e sem sentido?
Por
que o computador se tornou tão importante em nossas vidas, a ponto de nos
tornarmos dependentes dele, mesmo que ele não tenha feito parte da nossa vida
escolar e pessoal? Se através dele e do mundo virtual que ele descortina descobrimos
reais afinidades, amizades verdadeiras, companheirismo, parceria, por que, no
tempo certo e ao vivo, nos deixamos levar por valores tão superficiais,
desgastados pelo tempo, desmentidos pelos anos?
Mais
uma vez, estamos enveredando
por caminhos que preencham nossa existência, que nos forneçam respostas, que
nos ajudem a suportar a caminhada.
Sejamos,
pois, as flores que margeiam a estrada, perfumando o trajeto e nos dando
alento para seguir em busca do rumo certo, do que vale mesmo a pena, do que não
pode ser deixado para depois.
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