sexta-feira, 27 de maio de 2016

CAMA DE CASAL



                                    “O casamento é o máximo de solidão com o mínimo de privacidade.”
Nelson Rodrigues

                                   Antigamente, só os pobres, os plebeus dormiam na mesa cama, por necessidade e impossibilidade de desfrutar de dois quartos e duas camas para o mesmo casal. Assim como as crianças, que dormiam também amontoadas, na mesma cama, pela mesma razão.
                                 Os ricos, os nobres tinham cada um o seu aposento e as mulheres eram “visitadas” pelos maridos quando eles desejavam ter relações sexuais com elas, geralmente com a fim de procriação. O desejo feminino era proibido e desconhecido, de forma que ter sua própria cama significava um alívio e uma liberdade que as agradava. Para os arroubos do corpo, os homens tinham quase sempre as suas concubinas, depois as amantes, mulheres que podiam dar e exigir prazer, sem as formalidades impostas pela sociedade falsamente casta.
                               Até o século 18, casar por amor não só era raro, como ligeiramente “deselegante”. Dormir juntos então… Nas casas dos camponeses europeus, não era nada raro haver apenas uma imensa cama, onde dormiam o casal, os filhos, os avós e os criados! Na Idade Média, a cama era compartilhada por todos, incluindo os eventuais hóspedes de passagem! E mesmo os reis, protegidos pelos seus cortinados de seda, viviam com uma pequena multidão de criados e familiares amontoados à sua volta, os leitos monumentais servindo como frágil barreira entre o lado público e o lado privado da vida. Talvez por isso mesmo, as camas fossem tão grandes. Os relatos da Idade Média europeia mencionam camas de 2 a 3 metros de largura, descontado o espaço para as arcas que ficavam encaixadas nas laterais e onde se guardavam os tesouros da família. Tão grandes eram algumas dessas camas que tinham que ser construídas junto com as paredes da casa.
                              Hoje em dia, alguns casais começam a se perguntar: por que será que a gente inventou isso de dormir junto em cama de casal? Ele ronca, acende a luz, tem insônia, ela não consegue pegar no sono, quem disse que cama de casal é uma coisa linda? Quando a mulher atinge o climatério e começam os calorões, volta e meia ela arranca as cobertas e o marido congela ao lado. Quando um vira na cama acorda o outro e a cama, muitas vezes, se transforma numa prisão. Dizem as pesquisas que, atualmente, três  de cada dez casais cansam de dormir junto por causa do parceiro e resolvem dormir em quartos separados.
                              Cama de casal é bom para quem adora dormir de conchinha, se cheirando, se tocando, se encaixando; para quem dorme e acorda conversando baixinho com o parceiro; para quem tem sensação térmica semelhante; para corpos e almas em constante conjugação. Cama de casal, enfim, foi feita para um casal e não para duas individualidades. Para isso, a melhor solução é voltar aos tempos dos aposentos separados e da junção nas ocasiões em que os dois desejam se encontrar, sentem vontade de estar juntos, sem que nenhum precise se resignar aos hábitos e peculiaridades do sono do outro.
                               Sei que muitos casais não pensam assim, que passaram a vida inteira dormindo junto, de bem ou de mal, e foram se adaptando às mudanças de comportamento um do outro. Que bom para eles! Deve ser mesmo muito bom sentir realmente isso. Mas não funciona assim para todos. Muita coisa mudou no mundo, as pessoas se tornaram mais individualistas, cedem menos, se conformam menos e buscam o melhor para si mesmas.
                              Agora, cama de casal é uma coisa muito boa! Para um casal, ou para uma pessoa só. Oh liberdade!




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