“O casamento é o máximo de solidão com o mínimo de privacidade.”
Nelson Rodrigues
Antigamente, só os pobres, os plebeus dormiam na mesa cama,
por necessidade e impossibilidade de desfrutar de dois quartos e duas camas
para o mesmo casal. Assim como as crianças, que dormiam também amontoadas, na
mesma cama, pela mesma razão.
Os ricos, os nobres tinham cada um o seu aposento e as
mulheres eram “visitadas” pelos maridos quando eles desejavam ter relações
sexuais com elas, geralmente com a fim de procriação. O desejo feminino era
proibido e desconhecido, de forma que ter sua própria cama significava um
alívio e uma liberdade que as agradava. Para os arroubos do corpo, os homens tinham
quase sempre as suas concubinas, depois as amantes, mulheres que podiam dar e exigir
prazer, sem as formalidades impostas pela sociedade falsamente casta.
Até o século 18, casar por amor não só era raro, como
ligeiramente “deselegante”. Dormir juntos então… Nas casas dos camponeses
europeus, não era nada raro haver apenas uma imensa cama, onde dormiam o casal,
os filhos, os avós e os criados! Na Idade Média, a cama era compartilhada por
todos, incluindo os eventuais hóspedes de passagem! E mesmo os reis, protegidos
pelos seus cortinados de seda, viviam com uma pequena multidão de criados e
familiares amontoados à sua volta, os leitos monumentais servindo como frágil
barreira entre o lado público e o lado privado da vida. Talvez por isso mesmo,
as camas fossem tão grandes. Os relatos da Idade Média europeia mencionam camas
de 2 a 3 metros de largura, descontado o espaço para as arcas que ficavam
encaixadas nas laterais e onde se guardavam os tesouros da família. Tão grandes
eram algumas dessas camas que tinham que ser construídas junto com as paredes
da casa.
Hoje em dia, alguns casais começam a se perguntar: por que
será que a gente inventou isso de dormir junto em cama de casal? Ele ronca,
acende a luz, tem insônia, ela não consegue pegar no sono, quem disse que cama
de casal é uma coisa linda? Quando a mulher atinge o climatério e começam os
calorões, volta e meia ela arranca as cobertas e o marido congela ao lado.
Quando um vira na cama acorda o outro e a cama, muitas vezes, se transforma
numa prisão. Dizem as pesquisas que, atualmente, três de cada dez casais cansam de dormir junto por
causa do parceiro e resolvem dormir em quartos separados.
Cama de casal é bom para quem adora dormir de conchinha, se
cheirando, se tocando, se encaixando; para quem dorme e acorda conversando
baixinho com o parceiro; para quem tem sensação térmica semelhante; para corpos
e almas em constante conjugação. Cama de casal, enfim, foi feita para um casal
e não para duas individualidades. Para isso, a melhor solução é voltar aos tempos
dos aposentos separados e da junção nas ocasiões em que os dois desejam se
encontrar, sentem vontade de estar juntos, sem que nenhum precise se resignar
aos hábitos e peculiaridades do sono do outro.
Sei que muitos casais não pensam assim, que passaram a vida
inteira dormindo junto, de bem ou de mal, e foram se adaptando às mudanças de
comportamento um do outro. Que bom para eles! Deve ser mesmo muito bom sentir
realmente isso. Mas não funciona assim para todos. Muita coisa mudou no mundo,
as pessoas se tornaram mais individualistas, cedem menos, se conformam menos e
buscam o melhor para si mesmas.
Agora, cama de casal é uma coisa muito boa! Para um casal,
ou para uma pessoa só. Oh liberdade!
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