Estou cansada de dizer e de ouvir que tudo era melhor “no
meu tempo”. Detestava quando meu pai dizia isso e hoje vivo querendo imitar.
Minha mãe é mais moderna do que eu, gosta do novo, do diferente, se adapta a
tudo. Já eu...
Fui carnavalesca desde pequena, amava os bailes infantis,
fazia fantasias para cada baile e pulava no salão do início ao fim, sem querer
parar e lamentando quando acabava. Mal debutei e pude, finalmente, ir aos
bailes à noite. Quatro noites maravilhosas, que começavam no “esquenta” e
terminavam na praça, coroando as estátuas, numa alegria que não tinha fim.
Nunca precisei de drogas ou de bebidas para me divertir, ao contrário, nas
vezes em que tomei uísque com guaraná me diverti menos, fiquei boba, dando vexame,
fazendo cenas para chamar a atenção, como a maioria das minhas amigas.
Casei cedo, portanto, carnaval “livre” mesmo fiz apenas duas
vezes, depois foi com o marido a tiracolo, menos animado que eu, mais
paquerador inclusive. E rolaram muitas cenas de ciúme, bem típicas do carnaval.
Minha avó, ao nos ver sair abraçados para os bailes, dizia: esta festa é do
diabo, amanhã estarão de mal!
Na minha cidadezinha o carnaval de rua era pobrinho, a
arquibancada mais ainda, no entanto, lá estava eu, com toda a família, prestigiando
a folia e me divertindo antes dos bailes.
Quando nasceram os filhos, antes de completar um ano já
tinham fantasia e eu os carregava para os bailes infantis, com o pretexto de
exibi-los, mas já aproveitando mais um pouco para dançar e pular. Nenhum puxou
essa minha paixão e preferiam ficar juntando confetes e serpentinas do salão do
que propriamente pular o carnaval.
Aos poucos, com as transferências do marido, fui deixando de
brincar nos salões, pois sem a turma não tinha a mesma graça. Nessa época
comecei a assistir os desfiles do Rio de Janeiro pela televisão. A família via
um pouco e ia dormir e eu ficava, descalça para não fazer barulho, pulando a
noite inteira junto com as escolas, pingando de suor, numa folia solitária e
quase feliz.
Com o tempo, comecei a assistir sentada, depois só as
escolas mais importantes e, finalmente, apenas as que desfilam mais cedo.
Muitas vezes pensei em desfilar numa escola carioca, depois assistir ao vivo lá
na Marquês da Sapucaí e nunca deu. Parece que todas as balas perdidas iriam
chover na minha cabeça... Hoje em dia, vivo me programando para comprar um
camarote e ir ver de perto o desfile na passarela Nêgo Quirido, em Floripa, mas não encontro companhia, ninguém topa me
acompanhar.
E, assim, quando digo que tenho saudades do carnaval “do meu
tempo”, é porque só brinquei naquele tempo mesmo. Pena...
Um comentário:
As boas memórias são bálsamos da alma. Você é feliz, viveu. Não tive o privilégio de uma adolescência tão profícua, mas, como o escritor empresta seu passado aos leitores, vivi por breve instantes em suas lembranças as emoções que gostaria tanto ter vivido.
Abraço!
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