Não
sabemos de quanto tempo dispomos no mundo. Melhor assim. Caso contrário, seria
nossa passagem por aqui tão programada que pouco sobraria para o inusitado, a
aventura, as tentativas, aquilo tudo que dá sabor à vida.
Dizem
alguns que, na hora da morte, costuma passar um tipo de filme da vida da gente.
O que esperamos ver nesses instantes derradeiros? Os erros, os acertos, os
riscos, o bom, o ruim?
Já
falei aqui que não sei meditar, acho dificílimo esvaziar a mente e só ver cores
nela. Agora, pensar eu sei e o faço até com certa desmedida.
Num
desses momentos em que meus olhos voam, tentei contabilizar meus feitos nesta
vida e fiquei cansada.
Quantas
fraldas troquei, quantas mamadeiras preparei, quantos banhos dei, quantas unhas
cortei, quantos beijos e abraços dei, quantas provas corrigi, quanta louça
lavei, quanta comida e merendas para a escola preparei, quantas músicas
toquei no piano, quantas cantei, quantas dancei, quantas ouvi, quantas
cartas escrevi, quantos filmes assisti, em quantas brigas me envolvi, quantas
orações fiz, quantas fotografias, quantos sorrisos, quantas lágrimas, quantos
"não" fui capaz de dizer, quanta saudade, quanta ingratidão, quantas
calúnias sofri, quantos prejulgamentos fiz, enfim, todas essas coisas que compõem
a VIDA.
A
vida é tudo isso. E é muito pouco.
Na fina peneira do tempo só os grandes
permanecem. O que terei feito de "grande", que não se
escoe pelos furinhos da peneira dos dias, meses e anos?
Até
aqui, mesmo tendo sido pró-ativa a vida toda, só encontro quatro talentos
retidos na malha fina - meus três filhos e meus livros,
sendo que dois filhos já trazem seus rebentos ao colo. E é só.
Percebo
que o mundo passa muito bem sem mim e que não sou absolutamente importante para
nenhum projeto da humanidade. Minha biografia é desinteressante de tão normal e
mesmo os pequenos voos, que julguei tão ousados, não são nada diante da
experiência da maioria dos escrevinhadores.
Espero
ainda ter tempo de escrever mais livros e, quem sabe, contribuir efetivamente
para a roda do mundo, destacando muitos outros talentos na minha peneira.
Oxalá!
Um comentário:
Olá, Malu!
Acho que contribuímos, quer queira, quer não, para a roda do mundo. Lendo um de seus textos, descobri a poesia que fala da felicidade que nunca a pomos onde estamos. Se quiser saber, chegou num momento bem especial para mim. E a repassei para alguém também muito especial.
Abraço!
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