domingo, 6 de setembro de 2015

BELA FLOR DE AMOR



Hoje quero falar de AMOR.
Amor lembra flores, cartas, beijos, poemas, luares, promessas, saudades.
Há uma poeta portuguesa, do início do século XX, que viveu pouco (apenas trinta e seis anos), mas amou muito (teve três maridos) e sofreu muito por amor também.
Florbela Espanca, como muitos escritores consagrados, só foi lida e reconhecida depois de morta, pois, enquanto viveu, precisou bancar a edição de seus livros e recebeu dois tipos de crítica, ambas funestas para um autor: elogios vagos, superficiais, benevolentes ou uma crítica depreciativa, preconceituosa, apoiada apenas em valores morais e/ou religiosos, pouco relacionados com a verdadeira literatura.
Além da condição feminina (até então pouco abordada), Florbela usou a dor como matéria-prima capaz de criar e transfigurar o mundo.
Sobretudo a morte do irmão, a quem devotava enorme afeto, fez com que ela vivesse atormentada, com os nervos em frangalhos, fazendo uso de remédios para dormir, dos quais se valeu também para morrer.
Sua biografia conturbada é facilmente associável à sua obra, numa justificativa sem bases.
 Ela dizia: “Eu sou hoje o que fui sempre (...) uma figueira nunca poderá dar rosas.”
Rebelde, irreverente, avessa à publicidade, à glória, à crítica, aos jornalistas, sem editor, sem dinheiro, orgulhosa, quem melhor pode falar de Florbela Espanca é ela mesma, através de seus poemas.
Selecionei um dos meus preferidos para compartilhar com vocês.
Espero que gostem e que leiam mais esta poeta notável, nascida em Portugal – Vila Viçosa, a 8 de dezembro de 1894 e que decidiu encerrar sua existência no dia do seu aniversário, quando completava trinta e seis anos, a 8 de dezembro de 1930.

Escreve-me...

Escreve-me! Ainda que seja só
Uma palavra, uma palavra apenas,
Suave como o teu nome e casta
Como um perfume casto d’açucenas!

Escreve-me! Há tanto, há tanto tempo
Que te não vejo, amor! Meu coração
Morreu, já e no mundo aos pobres mortos
Ninguém nega uma frase d’oração

“Amo-te!” cinco letras pequeninas,
Folhas leves e tenras de boninas,
Um poema d’amor e felicidade!

Não queres mandar-me esta palavra apenas?
Olha, manda então... brandas... serenas...
Cinco pétalas roxas de saudade...

                       27/04/1916



 Crônica publicada no meu livro NÃO BASTA VIVER!



2 comentários:

Francisco Carlos D'Andrea (francari) disse...

Admiro a poesia de Florbela Espanca, mas gostaria de fazer 2 reparos:
1) Ela recebeu pelo menos um reconhecimento de sua poesia, quando venceu um festival de poesia dos Açores (não lembro a data), foi a primeira vez que ouvi falar dela quando alguém publicou na década de 50, gostei do seu poema vencedor e fui procurar mais sobre ela. Difícil foi encontrar algo mais naquela época.
2) Acho que ela era inadaptada socialmente, o que provocou sua rebeldia, sua não aceitação social, sua tristeza mórbida pela morte do irmão, seu culto à morte (Morte, minha senhora Dona Morte/ tão bom que deve ser o teu abraço...), uso inadequado de medicamentos e suicídio e não o inverso.
É apenas opinião, não sou alguém habilitado a este tipo de juízo.

Francisco Carlos D'Andrea (francari) disse...

Complementando a lembrança: notícia do Festival de Poesia de Açores saiu em 1958, jornal Correio do Povo, Seção Bric-a-brac da Vida. Eu estudava (2º ano de Engenharia) e morava na casa de meus tios, no bairro Petrópolis; meu tio, Dalmiro Guedes Krug era funcionário da Cia Caldas Junior, motorista da viúva Caldas e, eventualmente, da reportagem e todos os dias trazia o exemplar do Correio do Povo, ao retornar do trabalho.