sábado, 5 de setembro de 2015

A PÁTRIA DE JOELHOS



Na Semana da Pátria, um registro que ainda representa muito o estado de ânimo dos brasileiros.

 
                           Um país não pode ser representado apenas por um time de futebol. Quando esse país não se destaca em quase mais nada e apenas joga bola muito bem, esse passa a ser o seu carro-chefe. Assim, temos todos esses problemas, mas em campo batemos um bolão!
                          A mídia constrói e desconstrói quem quiser, motiva e desmotiva num piscar de olhos e nos faz acreditar naquilo que deseja que acreditemos. Por isso embarcamos no sonho de sermos Hexa Campeões de futebol, título que nenhum país detém.
                         A Copa do Mundo no Brasil viria para enriquecer a nação, fazer com que os turistas derramassem suas moedas em todos os cantos do país e nós, brasileiros, pudéssemos respirar e termos menos impostos descontados do nosso salário em virtude da bonança trazida pela Copa.
                        Estádios majestosos foram construídos em cada região do Brasil, todos superfaturados, enriquecendo os safados de sempre e, inclusive, em lugares onde sequer existe um time de projeção que possa usufruí-los depois da Copa.
                        O povo gritou, fez passeata, protestou, mas foi parado com a truculência de sempre e o clamor de quem acreditava que um pouco de glória poderia fazer bem aos corações e bolsos tão sofridos dos brasileiros.
                      A escolha do técnico e a escalação dos jogadores, na visão dos entendidos, já se mostrou problemática.
                      A distribuição dos ingressos foi polêmica, pois dependia de sorteios e outras maracutaias que culminaram com uma quadrilha distribuindo ingressos pelo mundo, tendo gente até da FIFA envolvida. E o Zé povinho teve que se contentar em assistir pela TV, como sempre fez.
                     A arbitragem deixou muito a desejar e a FIFA sempre parcial, sempre autoritária, numa antipatia visceral.
                    Os primeiros jogos, com a nação pintada de verde-amarelo, prenunciaram grande sofrimento. A seleção canarinho ia aos trancos e barrancos, contando com a sorte e vencendo por um tris. Aguenta coração! Alguns não aguentaram e explodiram em pleno estádio (que desperdício de vida!).
                    Num time que possuía um grande atacante e um grande defensor, quebrado um e expulso outro não sobrou nada.
                    Não importa vencer, o importante é competir... balela! Consolo de fraco e derrotado. Perder também faz parte do jogo, mas perder com hombridade, com garra, com esforço que justifique os milhões da sua conta bancária e as mordomias inenarráveis que recebe, sem ter feito quase nada para isso, apenas usando um talento inato que dá lucro, ao contrário de outros talentos, bem mais significativos, que pouco rendem monetariamente.
                     As escolas suspenderam as aulas, os empregadores liberaram seus empregados, as famílias e amigos se reuniram, encheram a casa de bandeiras, pintaram a cara, vestiram a camisa e se empolgaram cantando o Hino Nacional. Afinal, surpreendentemente, nossa seleção já estava disputando a semifinal da Copa do Mundo 2014!
                      Mesmo para os mais fanáticos, a Alemanha era favorita, até quem entende pouco de futebol percebia sua organização, seu jogo limpo e certeiro, com poucas faltas e muita habilidade. A possibilidade de o Brasil perder, num 2 x1, por exemplo, era palpável.
Unhas roídas, olhos grudados na tela (isso para o comum dos mortais que não estava no estádio), coração acelerado, quase infartando no primeiro e no segundo gol dos alemães.
                    Agora, a partir do terceiro gol, a incredulidade tomou conta de todos os torcedores brasileiros, perplexos, congelados naquele estupor de “me belisca, isso não pode estar acontecendo”!
                    Alguns se revoltaram e desistiram de ver o jogo, outros gastaram seus foguetes de pura raiva, muitos choraram, e todos, sem exceção, foram pisoteados, humilhados, vilipendiados com um lavada colossal, de 7 x1 na tal seleção pentacampeã, na casa dela, na nossa casa, diante dos nossos olhos.
                    Não tem desculpa aceitável! Não tem explicação plausível! Nenhuma seleção com garra aceitaria esse massacre, dessa forma!
                    Bobo de quem ainda for ao estádio assistir a disputa pelo terceiro lugar... que deveria ser de outras equipes já eliminadas e que, pelo visto, jogavam muito melhor e mereciam muito mais ter chegado à semifinal.
                    Pior que isso só mesmo o fato de, em seguida, ter que aguentar o horário político eleitoral!




Crônica publicada no meu livro NÃO BASTA VIVER.



 

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