Quase todas as etapas da vida são discutidas, alardeadas à exaustão. Menos a menopausa. Passa-se do auge hormonal dos homens e mulheres à terceira idade, à envelhescência, como se, entre eles, não houvesse um rito de passagem, particularmente difícil, quase insuportável para algumas mulheres e alguns homens. Sim, homens também têm andropausa e a vida muda muito para eles, só que raros ousam se queixar, temendo perder a virilidade aos olhos das mulheres.
As mulheres são preparadas para menstruar, para conceber, para parir, para evitar filhos, para ter orgasmos, para dar prazer e depois, pulando um longo período, para se adaptarem aos rigores da velhice e até ao uso de remédios para incontinência urinária, quando não fraldas e congêneres. Só que, entre um período e outro há uma grande faixa, que começa no climatério e se estende por muitos anos, desafiando a mais equilibrada das mulheres, alternando calorões intensos com arrepios de frio, insônia, osteoporose, perda da libido, depressão, irritação, gordura localizada, problemas coronarianos, queda de cabelo e uma sucessão de horrores difícil de encarar!
Quando uma mulher se proclama em menopausa já é olhada com piedade, como se estivesse acabada, sem valor algum, uma vez que já está improdutiva. Se faz reposição hormonal os sintomas se atenuam, quase volta à normalidade, a não ser pelo risco iminente de desenvolver tumor nas mamas e outras complicações advindas dos hormônios sintéticos.
O mais estranho é o pacto de sigilo que parece cercar essas mulheres. Ninguém fala em menopausa, raras comentam seus dissabores, muitas procuram menosprezar os sintomas, como se não falando neles fossem desaparecer. Várias diminuem a idade, apavoradas com o fato de que serão descartadas, consideradas inúteis. De nada adianta essa negação se seu corpo sente tudo, é inundado de um suor pegajoso, como se aquele calorão interno fosse eclodir em ondas pela pele e voltasse a acontecer dia e noite, por muito tempo.
Sim, nós mulheres envelhecemos. Os homens também, embora a maioria envelheça de forma mais amena e mantenha a capacidade reprodutiva ao longo da vida. Nós já nascemos com nossos óvulos guardados nos minúsculos ovários e eles vão amadurecendo conosco e se preparando para garantir a nossa descendência. Na menopausa, já estão velhos, não servem mais para gerar bebês. Ao contrário dos espermatozoides que são fabricados e renovados ao longo da vida.
É da natureza, é assim que é, mas e daí? Continuamos vivas, inteligentes, maduras, equilibradas, com bagagem para conversar sobre quase tudo, ainda fazemos muitas coisas, tomamos conta dos mais velhos e até dos pequeninos, lemos, escrevemos, pintamos e bordamos, estamos vivas e, com a garra feminina que nos é peculiar, sobrevivemos à menopausa!
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