A gente escreve porque gosta, porque precisa, porque se expressa melhor através de letras e acredita que suas palavras tocarão o outro, modificando-o de alguma maneira. Escreve para ser lido, porque tem o que dizer, porque sente que pode contribuir com o crescimento individual das pessoas. Não são simples desabafos; ainda que muitas vezes tratem de acomodações pessoais, compartilham vivências e sensações na certeza de que elas são recorrentes e podem beneficiar seu leitor.
Num dado momento, ficamos deslumbrados com as honrarias e festejos, com o nome em letras douradas, com os troféus e medalhas e tudo o mais que envolve um presumível sucesso literário. Muitos escrevinhadores, alguns que jamais chegarão a ser escritores, envolvem-se nessa roda viva de ilusões e passam a acreditar na própria celebridade. Outros, mais lúcidos, desfrutam das festas, aproveitam as novas amizades, sem perder a tramontana, com os pés no chão e o foco no aprimoramento da própria escritura.
Para se testar, alguns se especializam em concursos, participam de todos que surgem e ostentam um currículo invejável de classificações. Mais ou menos como aqueles especialistas em vestibular que jamais chegam a concluir um curso universitário. Raros prêmios compensam o valor da inscrição e, geralmente, apenas permitem ao vencedor figurar em mais uma das incontáveis coletâneas, que acabam sendo distribuídas de graça para pessoas e instituições onde nem chegarão a ser lidas. Além disso, escritores consagrados, renomados, bem pagos, continuam participando dos concursos mais importantes e levando os melhores prêmios, num afã de continuar vendo seu nome no topo, ad infinitum.
Academias literárias pipocam em todos os lugares, reunindo pessoas que gostam de escrever, mesmo que quase nem publiquem, ou leiam muito menos do que seria esperado de um acadêmico. Servem como encontro de afinidades, clube social, troca de livros, normalmente guardados e esquecidos por quem os recebe sem sequer abrir. Algumas prestam serviços comunitários e, por menor que seja a contribuição, sempre há que se louvar o esforço das pessoas em divulgar a literatura e tentar levar os livros onde geralmente eles não chegam, num país tão pouco leitor.
Escritores independentes - a imensa maioria - pagam caro por suas edições e depois precisam ficar de porta em porta oferecendo sua obra, ainda que tenha valor e que, quando finalmente for lida, acabe por lhe render muitos elogios.
No Brasil, com raras exceções, os escritores pagam para escrever. Pagam suas edições, pagam para participar de concursos, pagam para figurar nas antologias, pagam para pertencer às academias, pagam os prêmios que recebem, pagam os troféus que levam para casa, pagam as viagens que fazem para receber prêmios, pagam por tudo!
Enquanto isso, as grandes editoras preferem traduzir livros estrangeiros e colocar no mercado, não dão a mínima para os autores nacionais e as pessoas continuam achando livro caro e desnecessário, quando vale o preço de um sorvete, de um chocolate, de uma blusinha ordinária, de um batom.
De vez em quando surge alguém que fala a língua dos adolescentes, suas gírias, seus problemas, suas fissuras, pouco acrescentando à sua formação, mas consegue cair no gosto da galera e fatura alto. Só que deve guardar bem o dinheiro, pois esses sucessos costumam ser meteóricos, daqui a pouco a novíssima geração encontra outro jeito de falar e viver e esses livretos já não servem mais para nada.
Minha análise pode parecer um tanto crua, mas acreditem que é real. Apenas esqueci de colocar os óculos cor-de-rosa para escrever.
3 comentários:
Olá,querida Maria Luíza
Com ou sem óculos cor de rosa, a gente escreve porque ama as palavras...
É muito caro para publicar livros e ainda se tem a possibilidade de encontrar gente muito desonesta... é tremendo o problema do escritor no Brasil (deve ser no mundo todo)...
Muita verdade no que escreve!
Bjm fraterno
Faço questão de ler todos seus textos. Com isso, tenho enriquecido meu vocabulário, a exemplo de palavras usadas por você, recentemente, como
"descabelar" ou "descabelado" (eu dizia "escabelar ou "escabelado") e "menorezinho" (também usava e até poderia usar, "menorzinho". Abraços e sucesso para você e suas escritas.
Obrigada meus queridos. As palavras de vocês ajudam muito a gente a resistir. Abraços.
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