Deitada no meu colo, ela lê a lição da prova de Ciências em
seu caderno, com aquela hesitação adorável dos recém-alfabetizados. Seus longos
cílios castanhos piscam devagar, a cabeleira dourada se esparrama no meu peito
e o ar sibila entre a porteirinha graciosa surgida com a queda dos dois dentes
de leite centrais.
Ainda ontem ela era o meu bebê, passava os dias inteiros aos
meus cuidados e chorava muito na hora de ir embora, estendendo os bracinhos
para mim e me partindo o coração.
Hoje descobre o mundo, a vida e as pessoas com passos
gigantescos de criança esperta e curiosa, numa ânsia de entender, de interagir,
de não deixar passar nada.
Os pés têm asas, quando dançam em meia ponta, quando correm
no recreio da escola e em busca das constantes descobertas.
Seus olhos claros, redondos , espertos procuram descobrir o
que não lhe contam, reparam nos detalhes, encontram defeitos, vasculham tudo e
todos.
A voz clara canta, grita, argumenta e faz escalas para
aquecer a garganta, além de cantar rock com o pai.
Uma borboleta, uma mariposa, uma libélula esvoaçante e
graciosa, delgada, pequena, leve como os sonhos, firme como as palmeiras que
vergam, mas não quebram.
Quando levanta o queixo desafia o mundo adulto, franze o
cenho, aperta os lábios e só cede depois de entender e aceitar os argumentos do
mundo adulto.
Um dia vai crescer, não caberá mais no colo, encantará seus
pares, fará caras e bocas, jogará charme, ditará regras.
Hoje, suas colocações, ácidas e pertinentes, deleitam os que
a conhecem, provocam risos e balançar de cabeça, encantam esta avó.
Que o mundo te acolha bem minha pequena, que não corte tuas
asas, não te decepcione e jamais deixes de sonhar, ter esperanças e acreditar.
Se perseverares, dançarás em ponta pelo mundo. Senão,
certamente encantarás com tua graça e teu ritmo nos bailes e baladas da
juventude.
Para mim, continuar te acompanhando é como admirar um
canteiro especial, onde a mais bela das flores desabrocha dia a dia.
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