De repente, tentei marcá-lo numa publicação da rede social e
verifiquei que não éramos mais amigos. Assim, numa decisão unilateral, sem
aviso prévio e sem justificativa, ele havia me cortado da sua lista de amigos. Tempos atrás, uma outra amiga, que tinha sido
minha vizinha nos anos dourados, também me cortara na época das eleições por
não suportar minhas críticas ao governo, mesmo que veladas, mesmo que um degrau
acima, mesmo sem apelação, como é do meu feitio. Resta lamentar... e refletir.
Quando uma amizade se dissolve por questões ideológicas, ou
preferências partidárias, convenhamos que não era uma amizade verdadeira. Se todos
torcessem para o mesmo time, votassem no mesmo candidato e escolhessem a mesma
cor, o mundo seria de uma mesmice asfixiante e desbotada e não haveria debates
de ideias, nada que nos fizesse crescer e aprender.
A senhora que trabalha como doméstica na casa da minha mãe é
um caso típico de dona da verdade. Ela, por exemplo, não come nada que leva
ovo, mas como ovo frito, porque, segundo ela, nele o ovo fica cozido e nos
bolos não. E ninguém a convence do contrário! Então não há troca de ideias,
porque é como bater num muro e não há assimilação possível.
Uma das minhas melhores amigas foi e é a Simara. Desde
pequenas conversávamos e discutíamos sobre política e nunca ficamos de mal. Ela
era PTB, porque toda sua família era e eu me dizia UDN, porque meu pai era e eu
morria de admiração por ele.
Muitas reuniões do PTB foram realizadas na casa dos meus avós
e meu pai ficava sentado no pátio, na sua espreguiçadeira, tomando seu mate e
cumprimentando os adversários políticos no maior respeito. Pilotava para Ruy
Ramos, inclusive nas comemorações getulistas em São Borja, no maior
profissionalismo.
A melhor amiga da minha mãe foi a tia Ada que, além de ter
ideias políticas contrárias, possuía uma família inteira de gremistas, enquanto
na minha casa eram todos colorados. Elas pouco discutiam, zombavam das derrotas
dos times, mas sempre se beijando e abraçando e assim foi até o fim.
Acho incrível que pessoas se afastem, ofendidas de morte,
porque têm ideias diferentes sobre alguém ou alguma coisa. Num tempo em que só
se fala em diversidade, em quebra de tabus e preconceitos, essas decisões maniqueístas
parecem fora de contexto. Atribuo as mesmas ao fato de nunca haver acontecido
uma mostra visceral de podridão e roubalheira em nosso país como agora. Não se
trata mais de discussão ideológica. A política brasileira virou caso de polícia!
E, se as pessoas acham que vale a pena sacrificar valores
muito mais altruístas que esses demonstrados pelos políticos contemporâneos, só
nos resta lamentar e repetir que “amizade é outra coisa”!
Um comentário:
Muito lúcida Maria Luiza!Concordo que uma amizade verdadeira sobrevive a maneiras de pensar diferentes, seja na política, religião, etc...
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