quinta-feira, 9 de abril de 2015

FÉRIAS INESQUECÍVEIS!




                   Parece título de literatura infanto-juvenil e não deixa de ser. Em que outra idade conseguimos ser plenamente felizes?
                   A memória tem cheiros, os aromas nos carregam para lugares dos quais nem lembrávamos mais. Foi o que me aconteceu.
                   De repente, a partir de uma simples torradinha com geleia foi chegando um tempo incrível, povoado, repleto de vozes e presenças, algumas das quais já não estão mais por aqui.
Num átimo me vi em Iraí, num quarto do Hotel Internacional, onde minha família costumava passar as férias de verão, desde o tempo em que minha mãe era solteira e ia com os pais dela.
                    Durante saborosos vinte e um dias meus pais e minha avó (já viúva) tomavam banhos aquecidos no Balneário, duchas, massagens, banhos de água de mineral. Para eles, era um alívio para as dores reumáticas e musculares; para nós era a oportunidade maravilhosa de rever os amigos do lugar e fazer outros, a cada temporada.
                    De manhã cedo saíamos a caminhar, meu pai, meu irmão mais velho e eu. Andávamos por trilhas, atravessávamos a pinguela para visitar a aldeia dos índios, recebíamos lições de história e de botânica e terminávamos o passeio com copos de água mineral, cujo gosto estranhávamos nos primeiros dias e depois custávamos a beber da outra, tão mais pesada e impura.
                    Os hotéis forneciam todas as refeições – maravilhosas! Mesmo assim, meu pai se preocupava em comprar algumas frutas, queijo, biscoito, rapadura, goiabada, coisas para deixar no quarto caso as crianças tivessem fome antes do jantar. E o aroma dos doces se misturava ao da erva-mate e também do fumo do palheiro dele e formavam aquele perfume inconfundível do roupão do meu pai, que conservou seu cheiro por um bom tempo depois que ele partiu.
                      Naquele tempo meu pai não tinha carro. Só tinha avião. Os pilotos têm ideias um tanto diferentes dos outros. E eu não sei como ele conseguia organizar e transportar aquela família, de ônibus e de trem, sendo que, além da minha mãe e das três crianças, minha avó levava uma mala imensa (para não repetir vestido no jantar) e ainda uma chapeleira redonda de couro, enorme. Levar a sogra e ainda com toda essa bagagem... só o seu Ramos mesmo!
                     Para complicar mais um pouquinho, eu tinha uma boneca da qual não me separava nunca, que se chamava Margareth. Pois ela tinha uma mala pequena com suas roupas e seus pertences também. Certa feita, na correria do café da manhã no dia da partida, Margareth foi esquecida na cadeirinha alta que ocupava ao meu lado na mesa do refeitório. Sonolenta e acossada com tantas ordens, chamados, bagagens, correrias, só fui me dar conta quando o ônibus havia partido e todos tomaram seus lugares. Corri ao meu pai, já com as lágrimas saltando dos olhos e gemi: - Pai, a Margareth ficou no hotel! Imediatamente ele pulou em direção ao motorista e pediu: - Por favor, volte à rodoviária, não podemos partir sem a Margareth! Não sei se o motorista pensou que era uma criança, o fato foi que voltou e, já no caminho, a Kombi do hotel vinha em disparada trazendo o precioso esquecimento, pois todos sabiam o quanto ela significava para mim.
                         Naquela época não havia frigobar nos quartos, nem ar condicionado, muito menos televisão e era tudo tão bom!
                         À noite, depois do jantar, as pessoas colocavam cadeiras de abrir na rua, em frente ao hotel e ficavam conversando até fazer a digestão e se recolherem. As crianças brincavam ali perto, ou ficavam jogando nas mesas, ou ainda caminhando com os adultos até a sorveteria.
                         Nossas férias em Iraí duraram até a infância dos meus filhos. Daí os hotéis já tinham piscina, água gelada nos apartamentos e televisão. Mas era tão bom quanto antes, porque o bom mesmo, o melhor de tudo era ser criança e ter meus irmãos, meus pais e minha avó por perto.
                       O sabor da infância é que deixa tudo mais gostoso, incomparável, inesquecível!






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