sábado, 27 de setembro de 2014

O ESCRITOR



                 Ninguém escolhe ser escritor.
                O escritor é sempre escolhido.
                 E os que, por ventura ou desventura, fizerem essa “escolha”, quase que certeiramente não serão bem sucedidos.
                 O escritor é um ser que se alimenta de ideias e se manifesta por letras. Quando não consegue se expressar vai ficando sufocado, como se as palavras estrangulassem sua garganta.
                 Tido como ermitão, o escritor precisa de momentos de reclusão e paz, possibilitando que as ideias, sempre muitas e até contraditórias, se organizem, tornem-se claras, permitam a transferência do cérebro para os dedos, para a tela, para o papel.
                 Nem sempre a inspiração surge no momento adequado, por isso, blocos e canetas se escondem em todos os cantos da casa, todas as bolsas, todos os bolsos, para que as ideias não se percam e possibilitem um adequado desenvolvimento das mesmas em seus momentos criativos, sempre solitários.
                 Quem vive de escrever – e esses são raros – podem adaptar sua rotina e horários aos momentos criadores.
                Já quem escreve porque gosta, precisa e quase não tem nenhum retorno prático com isso, deve ludibriar a rotina a fim de conseguir a plenitude do momento tão especial, que é o de dar vida às suas criações e seus personagens.
                Aparentemente solitário, na verdade o escritor é super povoado internamente, tem um mundo interior vastíssimo e preza , mais do que tudo, as pessoas que interagem nesse mundo, fazendo eco aos seus pensamentos e à sua forma de ser e viver. Trocas de cartas, de e-mails, de recados nas redes sociais também fornecem o combustível necessário a quem privilegia a palavra escrita.
              O silêncio de quem escreve é apenas aparente, uma vez que sua cabeça fervilha, as vozes gritam, as situações se sucedem e os dez dedos no teclado tornam-se insuficientes para extravasar tudo o que surge, muitas vezes, aos borbotões.
                Em outros dias a cabeça descansa, bloqueia, se recusa a sugerir o que quer que seja e essa é a única vantagem de não se escrever profissionalmente, pois, nesses dias, podemos no dar o direito de desligar a máquina e alimentar o espírito com boas leituras e com a observação da vida e das pessoas, o que constitui, em última análise, o combustível para tudo que se cria.
                  Mesmo aposentada do magistério, tenho uma rotina puxada de filha, mãe, avó e dona de casa.
                  Para driblar a escassez do tempo e do clima adequado à criação literária, acordo muito cedo, encho minha caneca de água gelada e escrevo em paz até que o resto da cidade acorde e os barulhos interrompam a fluidez do pensamento. Ou que o relógio indique que o primeiro compromisso do dia se aproxima. Esta é a minha rotina, acredito que cada escritor tenha a sua. Quando era mais nova e meus filhos crescidos estavam na Universidade, meu horário preferido de escrever era à noite.  Hoje não. À noite estou esgotada, burra, sonolenta e não sai nada que preste.
                  Mudei. Mas continuo escrevendo, porque fui escolhida para fazer isso pela vida afora.
                  Muitos apreciam e leem meus livros. Ainda bem.






2 comentários:

Roselia Bezerra disse...

Olá, querida Maria Luíza
Um texto super bem escrito e me identifiquei muito com tudo o que escreveu...
Sou bem solitária mas com uma multidão dentro de mim... amo o silêncio e paz, me recluo, esporadicamente e venho fervilhando com as ideias concatenadinhas...
Sou professora aposentada e me dedico, dentre tantas coisas, à escrita por amor...
Post precioso...
Bjm florido

Maria Luiza Vargas Ramos disse...

Obrigada minha querida! por tuas visitas e teus comentários. vejo que temos muito em comum! Bjo.