As meninas do Rio Grande são chamadas de “gurias”. E não se incomodam com isso.
Aqui em Florianópolis, várias pessoas se surpreendiam quando eu elogiava assim minhas netas: “Que guriazinha linda! ”
Minhas amigas, sessentinhas como eu, também são por mim chamadas de “gurias”. Carinhosamente. Meus filhos acham graça, pois muitas até já deixaram os cabelos brancos (as outras pintam).
Bem, mas passeando pelas fotos das redes sociais, verifiquei que as gurias, como eu, estão envelhecendo.
Lembro daquele bando ruidoso na saída do colégio, bordando de azul e branco toda a Avenida, comentando as provas, flertando com os “guris”, combinando as idas à biblioteca para as intermináveis pesquisas, ou os desenhos complicados dos mapas de geografia. Provas de Matemática e Desenho constituíam um capítulo à parte, tal o grau de dificuldade que o professor Adail imprimia à geometria.
Depois de aulas compenetradas (sim, naquele tempo a gente respeitava os professores e fazia silêncio nas explicações das matérias), a saída da escola era um grito de liberdade, quando podíamos falar alto, dar risada, comentar situações complicadas ou hilárias em sala de aula.
Depois, a vida se encarregou de dispersar as gurias e os guris para várias partes do país e do mundo.
Então chegou a internet e as redes sociais. E muitos se reencontraram. No começo, aquele estranhamento... como Fulana engordou! Como ele envelheceu!
Depois, a surpresa com a descendência. - Filhos lindos! Com os casamentos que acabaram, ou permaneceram.
E então surgiu a novíssima geração. Crianças fofíssimas enfeitando a linha do tempo das gurias e dos guris. E a gente se derretendo a cada foto.
Alguns ficaram pelo caminho na pandemia. E foi muito triste.
Outros, imaginem, desfizeram aquela velha amizade por conta de políticos de direita, de centro ou de esquerda. Isso foi decepcionante.
Minha geração, meus colegas de turma, as gurias que debutaram comigo, neste ano completam 70 anos! É assustador! Alguns já completaram, outros aniversariam ao longo do ano, mas até o Natal seremos todos “setentinhas! ”
Não tive um choque ao completar os 30 anos, pois estava ainda com estampa de 18. Nem quando fiz os temidos 40, porque também não sentia a passagem do tempo (inclusive casei de novo aos 48). Colocar a velinha de 50 no bolo foi mais curioso que trágico. Os sessenta já assustaram um pouco e em novembro, quando enterrar na cobertura do bolo as velinhas de 7 e 0, acho que terei um choque de realidade.
Envelhecemos. Já estamos com certeza no último terço da vida, se não formos surpreendidos com outros males.
Hora de fazer balanço? De arrumar a casa? Ou de continuar aprendendo com a vida, saboreando os bons momentos, curtindo as coisas de que mais gostamos, viajando nos livros e de avião, cultivando os velhos amigos, fazendo novos, descobrindo coisas, nos surpreendendo, valorizando mais nosso lado espiritual?
Estamos velhos, uns mais, outros menos, mas estamos vivos! Portanto, este ainda é o nosso tempo e certamente temos muito a oferecer às novas e novíssimas gerações.
Um beijo GURIAS e GURIS!
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