Fui, vi, curti e voltei.
Mais um sonho realizado. Gosto das coisas que não se compram
com dinheiro, pois são mais duráveis. Escrevendo muito, escrevendo sempre,
lendo muito também, conquistei o direito de participar dessa festa máxima da
Literatura Brasileira. Lá tinha meu nome gravado numa placa, meus livros
expostos e a oportunidade de falar sobre eles a quem se interessava. Lá eu não
pagava ingresso e ainda recebia um crachá que me consagrava como “autor” e não
apenas leitor, o que sou na essência. Isso bastava para que eu achasse tudo maravilhoso
e não fizesse nenhuma crítica, no entanto, a crítica construtiva visa a
aprimorar o que já é bom.
Tinha gente demais! Os ingressos tinham que ser limitados
por dia, por turno, sei lá, mas não dá pra ter qualidade com uma quantidade
assustadora de gente assim! Meu filho ficou 3 horas na fila, no sol, para
conseguir ingresso. E assim como ele muitos! As filas para o banheiro eram
assustadoras. Para descansar, ou lanchar, só sentando no chão. As crianças mal
conseguiam caminhar, quanto mais folhear os livros infantis.
Os autógrafos, a não ser no caso do Ziraldo ou outro “medalhão”
conhecido, limitavam-se basicamente aos parentes, amigos e convidados, o que
não difere muito das outras feiras. Pessoas desconhecidas, no final de semana,
não tinham a menor condição de apreciar os livros, caminhando quase arrastadas pela
multidão diante dos stands das livrarias.
Livrarias menos escrupulosas enchiam balaios de livros
infantis “made em China”, fruto de trabalho escravo, com traduções mal feitas
de autores estrangeiros e vendiam às crianças por R$ 5,00.
As grandes editoras, com tiragens assustadoras, barateavam
livros a rodo e formavam filas quilométricas para entrar e chegar perto das
prateleiras.
Para terem uma ideia, eu não consegui comprar nenhum livro.
Fui comprar, bem mais caro, os que eu queria, na livraria do aeroporto de
Curitiba. Pensava em trazer livros bons para os netos, mas como escolher,
examinar diante daquele sufoco? Cadeiras só para os autores que estavam
autografando e durante a hora determinada, depois era em pé mesmo.
Se valeu a pena? Com certeza! Foi cansativo, as vendas foram
fracas como em todas as feiras, mas a experiência foi muito importante!
Além disso, me senti o tempo todo acompanhada por vários
amigos, como se estivessem viajando comigo e compartilhando as novidades,
comentando, dando força. A impressão era de que minha comitiva era bem maior do
que na verdade foi, graças às redes sociais.
A questão editorial e a dificuldade que autores não famosos
têm para editar e comercializar seus livros é assunto bem debatido. Não é fácil
escrever em nosso país! Por isso, não me considero escritora, mas apenas alguém
que escreve e gosta muito de escrever. Escritor deve ser quem sobrevive da sua escritura
e eu, ao contrário, pago meus livros com a minha aposentadoria.
Neste ano pretendo lançar três novos livros na Feira do Livro
de Porto Alegre. O preço deles? Quase um carro popular. E o retorno? Nunca
chega nem na metade do investimento. Essa é a realidade, sem maquilagens ou
disfarces.
Por isso, não sei se, depois desses, terei condições de
editar outros. Continuarei escrevendo, até porque não vivo sem isso, escrever é
o bálsamo e a essência da minha vida, mas talvez vá deixar guardado aqui mesmo,
no HD, até que vença algum concurso cujo prêmio seja a edição do livro. Não tem
jeito.
De qualquer maneira, posso contar aos meus netos que sua avó
já participou da Bienal de São Paulo, como “autora”.
Não é pouca coisa.
Um comentário:
Parabéns , que beleza a Bienal; valeu com experiência e claro que em lugares assim , os medalhões são o chamariz. Até entendo sobte os custos de editar um livro, mas espero que não desista, afinal esctever é o teu oxigênio, vai em frente outros prêmios virão com certeza.Boa sorte.
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