terça-feira, 19 de agosto de 2014

PEQUENAS MISSES



            Não sou aficionada por televisão. Só ligo à noite, a partir do Jornal Nacional. Depois da novela das 21h costumo ir zapeando até encontrar alguma coisa que me agrade. Às vezes desisto antes, apesar de ter um bom pacote na TV por assinatura.
            Dia desses assisti a um programa curioso, intitulado "Pequenas Misses". Que prato cheio para um psicólogo! Imaginem que meninas de dois a quatro anos são depiladas, penteadas, maquiladas, sofrem bronzeamento artificial, colocam próteses nos dentinhos de leite que perderam e são obrigadas a passar horas ensaiando passos, giros, sorrisos, às vezes mortas de sono! Para mim, isso configura maus tratos e essas mães loucas deveriam ser encaminhadas ao Conselho Tutelar!
             Pior de tudo são as avós que, ao invés de dar um colinho, um beijo, ficam dançando freneticamente diante delas, num quadro bárbaro, para motivá-las no desfile. Mãe e avó sempre gordas, desajeitadas, ridículas, querendo compensar tudo isso naquela pobre criança.
              Olha, não é fácil ver aqueles anjinhos com dúzias de grampos nos cabelos, quilos de laquê, vestidos e sapatos pra lá de desconfortáveis e ainda tendo que conviver com a decepção explícita da família caso não se saiam tão bem.
A erotização precoce é um fato, principalmente entre as meninas. Minha neta estuda em escola de freiras, faz balé clássico e dança funk como uma favelada, além de rebolar no samba e viver falando em beijos e namoros, aos 4 anos! Selecionada para um projeto de pequenas modelos, foi cortada pela família que, sensatamente, desconfiou dos métodos de trabalho com crianças tão pequenas.
Culpa de quem? Das novelas, é claro! É ali que elas aprendem, de uma forma totalmente inadequada, comportamentos de pessoas bem mais velhas do que elas.
Meu neto de 9 anos não aceita mais desenho na TV; além do videogame, só se prende em canais com seriados adolescentes, enlatados americanos que pouco contribuem para seu crescimento pessoal.
Meninas de 14, 15 anos já se profissionalizam como modelos, queimando etapas, largando estudos, numa urgência de amadurecimento artificial e nefasto.
A infância é cada vez mais curta, menos inocente, menos lúdica.
Em contrapartida, os jovens custam muito para amadurecer de verdade, só aprendem da vida adulta o que lhes interessa e lhes prejudica, numa inversão total de valores.
Vamos brincar mais com nossas crianças, fazer castelos, incentivar a fantasia, deixando esmaltes, batons e beijos para bem mais tarde!





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