Não sou aficionada por televisão. Só ligo à noite, a partir do Jornal Nacional.
Depois da novela das 21h costumo ir zapeando até encontrar alguma coisa que me
agrade. Às vezes desisto antes, apesar de ter um bom pacote na TV por
assinatura.
Dia desses assisti a um programa
curioso, intitulado "Pequenas Misses". Que prato cheio para um
psicólogo! Imaginem que meninas de dois a quatro anos são depiladas, penteadas,
maquiladas, sofrem bronzeamento artificial, colocam próteses nos dentinhos de
leite que perderam e são obrigadas a passar horas ensaiando passos, giros, sorrisos,
às vezes mortas de sono! Para mim, isso configura maus tratos e essas mães
loucas deveriam ser encaminhadas ao Conselho Tutelar!
Pior de tudo são as avós que, ao invés de dar um colinho, um beijo, ficam
dançando freneticamente diante delas, num quadro bárbaro, para motivá-las no
desfile. Mãe e avó sempre gordas, desajeitadas, ridículas, querendo compensar
tudo isso naquela pobre criança.
Olha, não é fácil ver aqueles anjinhos com dúzias de grampos nos cabelos,
quilos de laquê, vestidos e sapatos pra lá de desconfortáveis e ainda tendo que
conviver com a decepção explícita da família caso não se saiam tão bem.
A erotização precoce é
um fato, principalmente entre as meninas. Minha neta estuda em escola de
freiras, faz balé clássico e dança funk como uma favelada, além de rebolar no
samba e viver falando em beijos e namoros, aos 4 anos! Selecionada para um
projeto de pequenas modelos, foi cortada pela família que, sensatamente,
desconfiou dos métodos de trabalho com crianças tão pequenas.
Culpa de quem? Das
novelas, é claro! É ali que elas aprendem, de uma forma totalmente inadequada,
comportamentos de pessoas bem mais velhas do que elas.
Meu neto de 9 anos não aceita
mais desenho na TV; além do videogame, só se prende em canais com seriados
adolescentes, enlatados americanos que pouco contribuem para seu crescimento
pessoal.
Meninas de 14, 15 anos
já se profissionalizam como modelos, queimando etapas, largando estudos, numa
urgência de amadurecimento artificial e nefasto.
A infância é cada vez
mais curta, menos inocente, menos lúdica.
Em contrapartida, os
jovens custam muito para amadurecer de verdade, só aprendem da vida adulta o
que lhes interessa e lhes prejudica, numa inversão total de valores.
Vamos brincar mais com
nossas crianças, fazer castelos, incentivar a fantasia, deixando esmaltes,
batons e beijos para bem mais tarde!
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