terça-feira, 29 de julho de 2014

TALENTO INFANTIL




                            Quem tem, ou já teve crianças na família, ou ainda quem trabalhou com crianças na escola sabe que nem todas as crianças são iguais, que umas precisam ser mais estimuladas que outras, que o temperamento já vem com elas e que os talentos vão sendo descobertos na medida em que são apresentadas a diferentes habilidades.
                           Por exemplo, existem crianças que pintam os desenhos borrando tudo, não respeitando os limites do traço, enjoando logo da atividade, enquanto outras, desde que aprendem a segurar o lápis, já demonstram um traço firme, um gosto pela harmonia das cores e o prazer de colorir as gravuras, ou desenhar.
                          Crianças que adoram atividades com números, quantidades, exatidão e crianças que se aborrecem nessas práticas e preferem letras, histórias, fantasias contadas e criadas. As aptidões se manifestam desde cedo, muito embora possam ser cerceadas ou mal conduzidas de modo a bloquear aquela inclinação primeira e a criança passará a detestar e a ter dificuldade naquilo que desempenhava com desenvoltura e apreciava tanto, tudo pela má condução do professor.
                          Muitas crianças chegam à escola adorando os livros, porque ouviram muitas historias contadas na família e o professor, com as enfadonhas e ineficientes fichas de leitura e a obrigatoriedade de ler o livro escolhido por ele – quase sempre chato – sufoca todo o gosto do aluno até ele se afastar definitivamente dos livros, achando a leitura tediosa, massacrante e sem uma pitada sequer de fantasia.
                         Há crianças que se destacam nas modalidades esportivas, na dança, na representação teatral. Elas devem ser estimuladas, valorizadas, elogiadas, para que perseverem e sirvam de exemplo e motivação a outras crianças. Quando trabalhava com crianças pequenas, costumava dar destaque até aos alunos que ganhassem um concurso de ioiô, ou de soprar balões. O importante é saber que dávamos valor à sua habilidade, fosse ela qual fosse.
                          Montei várias Salas de Leitura nas escolas, as crianças adoravam, quem às vezes atrapalhava era o professor, porque queria retirar toda a magia da leitura, da escolha dos livros, exigindo um “retorno”, com as perguntas enfadonhas do nome dos personagens, moral da história e congêneres.
                         Toda escola tem suas regras, nem poderia ser diferente. Mas a flexibilidade e a independência do professor dentro da classe fazem toda a diferença! Dentro da sala, com meus alunos, mando eu! E não preciso correr para a equipe pedagógica a todo instante, caso tenha segurança dos meus atos e dos meus conhecimentos. Foi assim que consegui adiar o trote na Universidade para uma turma de Engenharia, até que eles estivessem psicologicamente preparados. Simplesmente afirmando que ninguém tocaria num aluno, ou retiraria alguém da sala enquanto as aulas fossem minhas.
                        Um ambiente educacional povoado de reprimendas e leis, onde os limites são curtos e a liberdade criativa podada ao extremo, onde a criança não sente a menor valorização por suas conquistas e onde a equipe disciplinar trabalha mais do que os educadores, só poderá gerar seres limitados, inseguros, incapazes de voos maiores que os rasantes permitidos e, principalmente, sempre ansiosos por férias e feriados.
                        Na verdade, acho até questionável a função de uma equipe “disciplinar” para crianças de dois a seis anos, por exemplo. Que tipo de infração pode cometer uma criança dessa idade?! Mil vezes mais contadores de historias e professores de arte e música!
                        Penso em professores mais motivadores, gente que ensine a criar, a sorrir, a ser livre, a ousar, a ter segurança em si mesmo, a desenvolver suas habilidades até onde alcançar, a não ter medo, a não baixar a cabeça e os olhos, a não precisar se justificar a todo instante, a brincar muito – sempre! - a ser CRIANÇA, a ser FELIZ!
                          Este é o verdadeiro sentido da Educação Infantil! Não sendo assim, uma boa babá substituirá satisfatoriamente e, ás vezes, até com mais afeto a ausência dos pais.







Um comentário:

Ana Luiza disse...

EM Alegrete tem uma escola de educação infantil até a quinta série Escola Vida, Dina Vaucher e Zeca Faraco são as diretoras.Os três netos mais velhos estudaram nesta escola e exatamente como falas sobre a educação , esta escola tem em seu currículo. É um diferencial em nosso Alegrete, posso afirmar pois acompanhei a trajetória deles desde o pré. São hoje pré adolescentes com gosto pela leitura, conhecimento.Quando viajam levam seus livros para ler, sempre estão com algum tipo de leitura. Mas também foram incentivados pelos pais.Acho que as escolas teriam que começar com este tipo de disciplina em seu currículo.