sexta-feira, 25 de abril de 2014

BICHO DO MATO




                    O que fazem as mães!
                    Quem me conheceu lá atrás, ainda no Instituto de Educação “Oswaldo Aranha” e no Orfeão “Carlos Barone”, deve lembrar sempre de uma menininha de cabelos crespos, saia curta, que declamava em todas as festas, saudava todas as autoridades, discursava em todas as formaturas.
                   O que ninguém sabia era o quão penoso isso era para mim!
                   Minha mãe querida me rotulara de “desinibida, exibida e congêneres” quando, na verdade, meu coração sapateava no peito a cada apresentação, sempre com medo de esquecer parte daqueles poemas imensos, ou errar alguma rima, ou ainda ter um “branco” e esquecer tudo.
                  Vocês conseguem imaginar uma criança de nove anos declamando “Vozes d’África”, de Castro Alves?! Pois eu declamei, várias vezes!
                 Com dez anos declamava “meus Oito anos”, de Casemiro de Abreu e não era fácil sentir tanta saudade assim de uma infância que eu ainda vivia.
                 No Orfeão, declamei “As cirandas” de Mário Quintana para ele mesmo, num grande auditório de Porto Alegre, enquanto o orfeão cantava. Lindo, mas difícil e emocionante demais para meus onze anos.
                E assim no Baile de Debutantes e até na minha formatura na Faculdade, quando fui oradora com sete meses de gravidez.
                E eu não era desinibida, era até tímida, me soltava no meu grupo, com a minha turma, mas entrava em pânico quando se acendiam as luzes da ribalta. Sem psicologia alguma, na base do “deixa de frescura”, venci os medos e enfrentei todos os desafios. Mas sofria...
                Anos depois, inconscientemente, estava repetindo a pressão materna com meu filho caçula. Ele tocava piano muito bem e eu entrei na onda da sua professora e comecei a levá-lo para concursos até em outros estados. Até o dia em que ele sentenciou: “– Mãe, um dia eu vou morrer ali naquele palco, porque meu coração fica saindo pela boca e as minhas mãos suando sem parar.” É claro que ele não participou mais e ficou tocando apenas em casa, para nós.
                  Tenho um pouco de bicho de mato até hoje.  Adoro escrever, fico super feliz quando me saio bem nos concursos, ou recebo alguma homenagem, mas na hora de ir receber, de aparecer, de posar para a foto... queria sumir, vestir um roupão e voltar ao computador!
                  Acho que existe uma adrenalina boa e outra nefasta. Essa que sentimos antes de momentos difíceis não pode fazer bem. É muita angústia para um efêmero prazer.
                  O sucesso e o fracasso são extremos igualmente perturbadores. O segredo está em saber lidar com os dois, impedindo que um suba demais à cabeça e o que o outro nos arrase completamente. Como tudo na vida, uma neutralidade, uma medida é sempre a melhor receita.
                  O problema é que nem sempre a gente consegue!
 



Um comentário:

Anônimo disse...
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