Parece
que, na vida, temos que nos conformar com tudo, até com o que nos parece
injusto, pela simples razão de que muitas coisas independem da nossa vontade,
do nosso empenho e não há outro jeito senão aceitá-las.
As
pessoas talentosas para as letras e com mais idade são pródigas em criar
cartilhas e poemas de aceitação e até louvação da passagem do tempo, como se
envelhecer fosse uma dádiva e a decrepitude física uma bênção.
Tive
amigas lindas na juventude! Hoje, salvo raríssimas exceções, estão todas com
sobrepeso, rugas e dores musculares.
Nossa
redenção sempre se pautou na juventude e vigor dos filhos, que já apresentam
fios prateados nas têmporas e perderam um pouco do tônus muscular dos anos
dourados.
Agora
é a pele de pêssego dos netos que nos encanta e consola, que desvia nosso olhar
das manchas do sol nas mãos, do novo formato dos pés, da falta de viço da face,
do envelhecimento dos cabelos.
Meus
cabelos sempre foram problemáticos. Eu os herdei de uma avó que adorava, mas me
deram muito trabalho na vida, sempre crespos, volumosos, rebeldes. Como possuía
vários outros atributos físicos compensadores, eu os tolerava bem, sempre
alisados e depois com escovas progressivas e chapinha. Pois até eles resolveram
se rebelar. Cansados de tantas químicas e puxões, decidiram se suicidar e, para
não perdê-los, fui obrigada a aceitar os cachos e ondas teimosas com que nasci
e dos quais nem tinha mais lembrança. Quando me acordo e vou lavar o rosto,
parece ver uma estranha no espelho, com aquela cabeleira crespa e revolta que
eu não via desde os doze anos de idade, quando a alisei pela primeira vez.
Parece besteira, mas chega a dar uma crise de identidade numa pessoa, podem
acreditar!
Recapitulando,
as “maravilhas” da terceira idade (ops, melhor idade): vários quilos a mais e
mal distribuídos, cabelos “ao natural” (no meu caso, naturalmente feios), pele
sem viço, manchas nas mãos, dores musculares (e eu que nem sabia que tinha
quadril e joelho), insônia, preferência pelo travesseiro ao invés do babydoll, visão diminuída (óculos para
tudo), aversão a fotografias “de perto”, depressão ao rever fotografias de
tempos atrás e uma cabeça teimosa, que insiste em permanecer jovem, disposta,
criativa, sonhadora e, às vezes, até romântica.
É
bom não precisar mais consultar as receitas e cozinhar cada vez melhor, é
maravilhoso reunir a família e encher de mimos os pequeninos, não ter mais
patrão, nem horários rígidos a cumprir também é bacana, mas não é disso que se
trata esse texto. Falamos em desgastes físicos, inerentes à passagem do tempo,
irreversíveis por meios naturais e nem por isso mais suportáveis.
Bom,
vou colocar um maiô (e eu adorava usar biquínis bem pequenos), prender esses
cabelos teimosos do jeito que der e caminhar à beira-mar, conformando-me com
pessoas em pior estampa e, para não ser injusta, agradecendo a Deus pela saúde,
pela brisa do mar, pela areia fofinha e por ter olhos para apreciar as maiores
e mais perenes belezas, que são as naturais.
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