sexta-feira, 30 de agosto de 2013

CASAIS





          Se existe uma coisa que sempre me emociona e me faz virar a cabeça para olhar é um casal já bem idoso, de mãos dadas, um se preocupando com o outro, no mesmo passo, numa cumplicidade infinita.

          Claro que depois de tanto tempo juntos a paixão se transformou, o amor ficou também fraternal, maternal, mas sempre amor.

          Eles atravessaram todas as fases da vida lado a lado, estão em todas as fotos, no semblante dos filhos, no sobrenome dos netos, enfim, escreveram sua própria história, mas permanecem um casal, como originalmente foram.

          Sabem cada gosto do companheiro, cada mania, e conhecem o outro pelo andar, pela forma de olhar e até por algum trejeito na boca, nas mãos, enfim, conhecem o parceiro como a si mesmos.

          Muitas vezes, os casais se separam até para cuidar melhor da prole, deixando o vínculo primordial de lado e tomando partidos errados, a favor dos filhos, por exemplo. No fundo, os filhos gostam mesmo é quando os pais tomam partido um do outro e, mesmo que sobre menos tempo e atenção para eles, raro é o filho que não fica feliz vendo a união e o amor dos pais.

          Meus pais se beijaram na boca até a morte dele, aos noventa e dois anos. E ele não deixava ninguém sentar à mesa se sua atrasada esposa não tivesse chegado. Nas discussões dela com algum filho adolescente (eu, por exemplo), ele sempre tomava partido dela, ela estava sempre com a razão e não havia ninguém no mundo mais importante para ele do que ela. Quando minha mãe precisou fazer uma cirurgia ele já estava cego, mas não desgrudou um minuto da porta do bloco cirúrgico até os médicos virem atualizá-lo dos procedimentos e garantirem que ela estava bem. Depois, passava os dias na cama auxiliar, internado ao lado do seu grande amor.

          Talvez esse exemplo tenha me feito gostar tanto de ver velhos casais nas praças, nas igrejas, nas festas e até nas salas de espera dos consultórios, sempre unidos, como prometeram um dia: na alegria e na tristeza, na saúde e na doença.

          Pode ser piegas, pode ser ultrapassado, pode ser que vocês achem velhos sempre feios e sem graça, é um direito que lhes cabe.

          Eu adoro vê-los, eu os acho lindos, eu os invejo e acho que eles foram muito mais felizes do que esses que os menosprezam.

          É isso.



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